Nunca parei para pensar na real necessidade de ter uma chaleira em casa. Olhando de longe, ela só fica parada em cima do fogão com um ar blasé. Não sabe fritar um ovo. E chia quando tem que trabalhar. Sabe aquele restinho de água que sempre sobra lá dentro, difícil de secar? É um hotel 5 estrelas para o mosquito da dengue. Já tive três ou quatro chaleiras na vida. A última era a mais bonitinha, toda fashion, pelo menos decorava a cozinha. Sua alça não segurou o tranco, soltou e foi aposentada precocemente.
Agora eu olho para o fogão e - droga! - sinto falta dela. Não da última ou da penúltima, mas da figura da chaleira. Talvez não importe tanto sua utilidade, mas o papel que ela representa. É um bastião do aconchego. Eu me criei e criei meus filhos com uma chaleira em cima do fogão. Enquanto penso em voz alta, me dou conta de que ela é um ícone do Lar, Doce Lar. Assim como a bordinha de crochê do pano de prato e a rachadura na parede.
Amanhã mesmo eu vou atrás de outra chaleira. Vou me sentir melhor com ela por perto. Preciso da sua mística, hoje em dia o mundo anda cyber demais. Tem objetos que realmente são os móveis e utensilhos da casa. A chaleira tem alma e eu não sabia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário