-Olha que beleza!
Antônio veio da churrasqueira mostrando o espeto de picanha como se fosse um troféu. A carne parecia mesmo uma delícia, tostadinha por fora e provavelmente vermelha por dentro, como anunciava o sangue pingando no chão.
-Que cabeça, esqueci de bater o sal…
E lá se foi ele com sua picanha de volta, fazendo outra trilha. Olhando para o chão, dava para adivinhar todo o trajeto do assador nas últimas duas horas. Manchas pretas de carvão quando ele foi colocar o saco vazio no lixo, gotas de água depois que lavou os espetos, migalhas de pão com alho por tudo.
-Gente, essa picanha está se desmanchando de tão macia!
Desde que decidiu fazer um churrasco para receber os tios de Minas que viriam passar alguns dias em Porto Alegre, Antônio só pensava nas providências a tomar. Calculou e recalculou a quantidade de carne por pessoa. Se perguntou mil vezes se comprava salsichão de frango ou de porco, se fazia cebola no espeto, se não era demais coração de galinha, se usava sal grosso com ou sem tempero.
A sua tia só gostaria de fazer uma pergunta. E fez, apesar dos olhares que o tio Adão lançava sempre que queria evitar assuntos polêmicos.
-Toninho, por que na sacada?
-Por que o quê, tia Rosa?
-A churrasqueira. Na sacada.
Que pergunta, pensou Antônio. Podia ser estranho para um mineiro, mas para um gaúcho era perguntar porque o sol é redondo.
-Vocês não comem churrasco em churrascaria?
-Claro que sim. Mas aqui todo mundo tem sacada com churrasqueira.
-Se não tivesse a churrasqueira, cabia até um sofá na sacada.
Tio Adão levantou. Para ver se mudava o rumo da conversa, foi mexer nos espetos.
-Essa picanha sai ou não sai, gente?
-Tia Rosa, gaúcho que é gaúcho tem sacada com churrasqueira.
-O certo não é fazer churrasco no chão, como eles fazem no interior?
Antônio bateu o sal da picanha. Sua vontade era enfiar o espeto na garganta da tia.
-E como tem vento nessa sacada! Enche a sala de fumaça…
Tio Pedro não sabia onde se meter. Antônio já nem disfarçava a raiva. O churrasco estava pronto há horas e ele continuava afiando o facão.
-Rosa, quer fazer o favor de ficar quieta? Olha que vista linda!
-Por acaso não posso achar estranho churrasco de sacada?
-Rosa…
-Adão, você mesmo viu. Tem churrascaria em cada esquina!
Depois que os ânimos se acalmaram, todos sentaram na mesa. Para se desculpar, tia Rosa pegou o maior pedaço de carne. A cebola, o salsichão, a salada, o coração, ela nem tocou.
-Toninho, tem arroz?
-Arroz?
-Uai… não se come churrasco com arroz?
Da próxima vez, Antônio jurou que ia servir pão de queijo congelado para aquela gente.
Antônio veio da churrasqueira mostrando o espeto de picanha como se fosse um troféu. A carne parecia mesmo uma delícia, tostadinha por fora e provavelmente vermelha por dentro, como anunciava o sangue pingando no chão.
-Que cabeça, esqueci de bater o sal…
E lá se foi ele com sua picanha de volta, fazendo outra trilha. Olhando para o chão, dava para adivinhar todo o trajeto do assador nas últimas duas horas. Manchas pretas de carvão quando ele foi colocar o saco vazio no lixo, gotas de água depois que lavou os espetos, migalhas de pão com alho por tudo.
-Gente, essa picanha está se desmanchando de tão macia!
Desde que decidiu fazer um churrasco para receber os tios de Minas que viriam passar alguns dias em Porto Alegre, Antônio só pensava nas providências a tomar. Calculou e recalculou a quantidade de carne por pessoa. Se perguntou mil vezes se comprava salsichão de frango ou de porco, se fazia cebola no espeto, se não era demais coração de galinha, se usava sal grosso com ou sem tempero.
A sua tia só gostaria de fazer uma pergunta. E fez, apesar dos olhares que o tio Adão lançava sempre que queria evitar assuntos polêmicos.
-Toninho, por que na sacada?
-Por que o quê, tia Rosa?
-A churrasqueira. Na sacada.
Que pergunta, pensou Antônio. Podia ser estranho para um mineiro, mas para um gaúcho era perguntar porque o sol é redondo.
-Vocês não comem churrasco em churrascaria?
-Claro que sim. Mas aqui todo mundo tem sacada com churrasqueira.
-Se não tivesse a churrasqueira, cabia até um sofá na sacada.
Tio Adão levantou. Para ver se mudava o rumo da conversa, foi mexer nos espetos.
-Essa picanha sai ou não sai, gente?
-Tia Rosa, gaúcho que é gaúcho tem sacada com churrasqueira.
-O certo não é fazer churrasco no chão, como eles fazem no interior?
Antônio bateu o sal da picanha. Sua vontade era enfiar o espeto na garganta da tia.
-E como tem vento nessa sacada! Enche a sala de fumaça…
Tio Pedro não sabia onde se meter. Antônio já nem disfarçava a raiva. O churrasco estava pronto há horas e ele continuava afiando o facão.
-Rosa, quer fazer o favor de ficar quieta? Olha que vista linda!
-Por acaso não posso achar estranho churrasco de sacada?
-Rosa…
-Adão, você mesmo viu. Tem churrascaria em cada esquina!
Depois que os ânimos se acalmaram, todos sentaram na mesa. Para se desculpar, tia Rosa pegou o maior pedaço de carne. A cebola, o salsichão, a salada, o coração, ela nem tocou.
-Toninho, tem arroz?
-Arroz?
-Uai… não se come churrasco com arroz?
Da próxima vez, Antônio jurou que ia servir pão de queijo congelado para aquela gente.
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