Querida Anete, lembra quando rimei joanete com Anete e você morreu de rir? Isso foi há tanto tempo. Acho que nunca contei que essa rima não veio assim, do nada. Treinei muito na frente do espelho. Sou um cara ruim de improvisos. Cotonete, colchonete, mobilete, patinete. Uma semana sem conseguir achar novas palavras. Daí veio o joanete. Sabia que você ia achar graça. O mesmo não aconteceria se eu falasse em Bernardete e Margarete, as outras rimas que o Luisão sugeriu – coitado, ele só estava tentando ajudar.
Naquela noite, o meu joanete e a sua risada me deram coragem. Passei o braço por trás do encosto do sofá e rimei queijo com beijo. Você ia dizer algo como “ai que amor!” e minha boca chegou primeiro. Se eu fechar os olhos agora, vejo tudo isso acontecendo de novo, como num filme. Sinto até o seu gosto: morango recém tirado da geladeira. Sorte que você estava sem batom na hora.
Até hoje não sei se tocou a campainha da porta ou se foi dentro da minha cabeça. Eu ouvia coisas enquanto descobria o gosto da tua língua, o lisinho dos teus dentes. Beijei você daquele jeito porque não sabia o que fazer depois. Pegar o controle remoto e trocar o canal da TV não dava. Fingir que estava com vontade de ir no banheiro, também não.
Então preferi beijar até ficar sem fôlego. Eu sempre fazia isso dentro da piscina (trancar a respiração, não beijar). Naquele momento, a casa podia ser invadida por alienígenas canibais. Meu único medo era prender a língua no seu aparelho ou abrir os olhos e ver sua cara de decepção.
Mas não. Você disse alguma coisa que eu não entendi e me beijou de novo. Quando seus pais chegaram do supermercado, acho que estava escrito na nossa testa que a gente tinha se beijado. Sem falar no monte de almofadas espalhadas pelo chão. O beijo começou no joanete e quase terminou nas suas coxas, nas suas costas, na sua barriga macia.
Não sei por que estou lembrando disso agora. Não param de vir cenas na minha cabeça, de repente virei um flash back humano. Vejo a nossa viagem pra Noronha (e pra Madri, naquele albergue onde roubaram os nossos únicos pares de tênis), eu te ensinando a dirigir no chevetinho azul emprestado do meu primo, o dia em que você pintou o cabelo de ruiva só porque eu contei que tinha tara por ruivas, a vez em que nós dois nos encontramos sem querer no centro, a cama que a gente quebrou na casa da praia.
Anete, não vai embora desse jeito. Deixa eu pensar em outras rimas, deixa eu ir atrás de um dicionário com vinte mil palavras que terminem em ETE. Você riu do joanete, eu posso ser um cara engraçado de novo. Anete, dá para mim uma segunda chance. E uso calça cigarrette. Faço frete e teste para chacrete. Eu viro teu marionete. Esqueço o basquete. Aprendo a fazer omelete. Baixo o meu topete. Só não posso rimar meus dias com noites vazias.
Naquela noite, o meu joanete e a sua risada me deram coragem. Passei o braço por trás do encosto do sofá e rimei queijo com beijo. Você ia dizer algo como “ai que amor!” e minha boca chegou primeiro. Se eu fechar os olhos agora, vejo tudo isso acontecendo de novo, como num filme. Sinto até o seu gosto: morango recém tirado da geladeira. Sorte que você estava sem batom na hora.
Até hoje não sei se tocou a campainha da porta ou se foi dentro da minha cabeça. Eu ouvia coisas enquanto descobria o gosto da tua língua, o lisinho dos teus dentes. Beijei você daquele jeito porque não sabia o que fazer depois. Pegar o controle remoto e trocar o canal da TV não dava. Fingir que estava com vontade de ir no banheiro, também não.
Então preferi beijar até ficar sem fôlego. Eu sempre fazia isso dentro da piscina (trancar a respiração, não beijar). Naquele momento, a casa podia ser invadida por alienígenas canibais. Meu único medo era prender a língua no seu aparelho ou abrir os olhos e ver sua cara de decepção.
Mas não. Você disse alguma coisa que eu não entendi e me beijou de novo. Quando seus pais chegaram do supermercado, acho que estava escrito na nossa testa que a gente tinha se beijado. Sem falar no monte de almofadas espalhadas pelo chão. O beijo começou no joanete e quase terminou nas suas coxas, nas suas costas, na sua barriga macia.
Não sei por que estou lembrando disso agora. Não param de vir cenas na minha cabeça, de repente virei um flash back humano. Vejo a nossa viagem pra Noronha (e pra Madri, naquele albergue onde roubaram os nossos únicos pares de tênis), eu te ensinando a dirigir no chevetinho azul emprestado do meu primo, o dia em que você pintou o cabelo de ruiva só porque eu contei que tinha tara por ruivas, a vez em que nós dois nos encontramos sem querer no centro, a cama que a gente quebrou na casa da praia.
Anete, não vai embora desse jeito. Deixa eu pensar em outras rimas, deixa eu ir atrás de um dicionário com vinte mil palavras que terminem em ETE. Você riu do joanete, eu posso ser um cara engraçado de novo. Anete, dá para mim uma segunda chance. E uso calça cigarrette. Faço frete e teste para chacrete. Eu viro teu marionete. Esqueço o basquete. Aprendo a fazer omelete. Baixo o meu topete. Só não posso rimar meus dias com noites vazias.
3 comentários:
Saudades...
Maga, tentei te enviar e-mail, mas voltou...Beijo!
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