24 de nov. de 2008

A Dieta do Cartão

Chega um dia na vida de uma mulher em que ela pára na frente do espelho, olha o jeans novo, a blusa nova, o sapato novo, o colar novo e vê que não dá mais. Definitivamente, não dá mais para comprar tanto.
É o que aconteceu com Marina. Ela está linda. Já o seu cartão de crédito ficou estufado, inchado, roliço, quase explodindo. A fatura vai vir com papadas de papel. Talvez até o carteiro se negue a entregar por excesso de peso.
Marina sofre. Ela sabe que precisa tomar uma atitude drástica: cortar vitrines e tirar do seu cardápio os creminhos, batons, brincos e bolsas consumidos sem motivo aparente. Melhor nem esperar a segunda-feira para começar a Dieta do Cartão. De agora em diante, só uma folhinha de cheque por semana e um magro dinheirinho na carteira para as necessidades vitais. Marina andava assinando seu nome sem sentir o gosto das compras, já salivando pelo próximo vestido. Agora vai ter que se reeducar. E aprender a contar moedinhas como quem conta calorias. Para quem cresceu fazendo dieta, é mais fácil mudar hábitos econômicos usando a experiência adquirida. Marina vai sofrer nos primeiros meses, vai ter que recusar convites para ir no shopping, vai ter crises de abstinência só de pensar em vitrines e certamente vai assaltar um balaio de ofertas no meio da noite. Depois vai se sentir melhor. E assim que os resultados começarem a aparecer, ela vai poder soltar o cinto e ver que ele não está tão fora de moda assim. Se uma mulher consegue sobreviver sem carboidratos, tudo é possível. Marina já passou meses longe de pão e quase virou uma proteína de salto alto. Já fez a Dieta do Abacaxi, a Dieta de Beverly Hills, a Dieta das Cores, a Dieta da Ophra. Mas sua preferida sempre foi a Dieta dos Números: dois pares de sapato em três vezes, oito regatas na liquidação, cinco lingeries em uma mais duas, um par de brincos novo uma vez por semana.
Na Dieta do Cartão, o jeito é fechar a carteira e se deliciar com as compras dos outros. Sim, é permitido curtir as últimas aquisições da melhor amiga desde que não se caia em tentação.
Marina, você consegue. Só não experimente nada.
Outro segredo de qualquer dieta é o exercício. Deu vontade de comprar? Então mexa-se. Marina abre gavetas e portas, empurra para lá e para cá os cabides, cruza e descruza os braços tentando achar algo semi-novo, sobe em um banco para alcançar o que tem esquecido na parte de cima do armário. Customizar peças que não se usa faz tempo é um grande truque para acalmar os impulsos consumistas.
Com o passar dos dias, Marina vai descobrir que os armários dilatam como os estômagos. Se ela parar de colocar coisas novas dentro, ele volta ao tamanho normal e ela não vai sentir tanta fome de compra. Pendurar o extrato do cartão na porta do armário também é uma dica excelente. Se o valor do extrato for bem polpudo e repugnante, vai ter o mesmo impacto de colocar uma foto gorda da Marina porta da geladeira. Isso se ela fosse gorda, mas não. Tem um corpinho lindo e tudo que veste fica bonito. O que é uma bela desculpa para comprar o que vê pela frente.
E não é que a crise de abstinência veio mais cedo que o esperado? Nesse momento Marina treme só de se imaginar chegando em casa cheia de sacolas. Nos seus devaneios mentais, vira tudo em cima da cama e fica ali saboreando cada peça nova. Suas mãos suam frio ao lembrar do delicioso ato de tirar as etiquetas de preço – ela pode até ouvir o barulhinho do tag de plástico arrebentando e libertando a saia do R$ 59,90.
Pobre Marina, que saliva pensando numa meia nova. A embalagem de plástico que abre tão convidativa, a tesourinha para cortar aquele ponto de linha que une os dois pés da meia, mais uma etiqueta de preço para arrebentar. Hummm... Marina comeria um código de barras inteirinho agora.
É só dar tempo ao tempo. Ela vai conseguir perder uns quilinhos de contas e se sentir mais leve. É só ter persistência e disciplina. A Dieta do Cartão funciona até para a mulher mais consumista. Marina, onde você vai? Não, não! Volte aqui, Marina. Você recém tomou café da manhã. O shopping nem abriu ainda!

2 comentários:

Anônimo disse...

maga, tava com saudade!
pra variar o texto é ótimo, engraçadíssimo!
beijos

Alexandra Aranovich do Café Viagem disse...

tá ótimo. a parte das explicações então é perfeita! (... pãezinhos e eu fui demitida.)
beijos