15 de set. de 2010

Anjo, eu??

A coisa tá difícil, nem rezar em paz a gente consegue. Não sou de frequentar igreja, mas tem dias em que sinto muita necessidade de ir lá, acender uma vela pra Santo Antônio e matar a saudade. Gosto de ficar quieta e ter uma conversa só com a voz do pensamento, como dizia o Rafa pequeninho. Saio tranquila e renovada.
Hoje cedo foi um desses dias, mas o momento introspectivo parecia uma reunião cheia de interrupções. Primeiro me pediram emprego e também umas calças "dessas fuseau, bem quentinhas pro inverno". Depois, ainda com o fósforo aceso na mão, fui chamada de "anjo que apareceu na minha frente".
Meu amigo, eu não sou anjo. Sou bem humana. Tenho manias, angústias, falhas, ansiedades, inseguranças e medos - principalmente de ser assaltada por um homem, sozinha no cubículo das velas que fica do lado de fora da igreja. O que me assustou não foi saber que ele tem HIV, está muito mal e quer ajuda. Não foram suas mãos escondidas nos bolsos do sobretudo de lã. Foi a frase "eu não vou fazer bobagem". O fósforo aceso tremeu no ar, mas eu não ia sair sem a visita completa. Acendi a vela com dificuldade, aproveitei a desculpa de devolver a caixa e pedi que ele esperasse. Voltei para a igreja, de onde escapei pelo outro lado e sumi no carro.
Viu como eu sou humana? Anjos não mentem. Eu gostaria de ajudar, se não fosse o medo.

Imagem: FFFFound

2 comentários:

Regina Laura disse...

Nossa Magali, mas nem ir à igreja ajeitar um pouco os pensamentos a gente pode mais?
Como eu também não sou anjo, nem virei porcelana ainda, te entendo perfeitamente ;)
Beijão

Claudiene Finotti disse...

Oi Magali!
Aqui tiveram que erguer muros nas laterais da igreja matriz... affff... ninguém mais tinha paz e nem segurança. A diferença é que aqui faz um calor do cão e ninguém usa sobretudo, no máximo um bermudão com bolsos para esconder alguma arma...rs...

Bjão.

Clau