Relaxe, não há nada a fazer. Você está atrás do caminhão de lixo. Tire o pé do freio e a mão da buzina. Por alguns minutos que parecerão horas, as suas urgências vão dar passagem a restos mortais de iogurtes, escovas de dentes renegadas, caixas vazias de leites, cascas de frutas e ossos de galinha. Ligue o som e preste uma homenagem dedicando a eles sua música preferida.
Se você tem o luxo de estar em um carro com ar condicionado, feche os vidros e assista de camarote ao balé do lixo: os homens correm de um lado a outro, pulam para subir na carroceria, fazem saltar veias da perna e sacolas de supermercado, erguem nos braços sacos de 100 litros. Poucas academias oferecem aulas tão completas de aeróbica. E ainda sobra fôlego para a turma conversar sobre futebol e mulheres.
Atrás de um caminhão de lixo, palavras como pressa e ansiedade vão parecer inúteis como uma garrafa de refrigerante sem tampa. O tempo vai perder a noção e você, provavelmente algum compromisso.
Aproveite o momento para ligar para uma amiga, marcar depilação, pagar conta, encomendar uma torta ou experimentar aquela técnica de meditação que você leu numa revista. Se ficar só reclamando, depois não diga que não tem tempo para nada: lembre-se de que você estava com a faca e o queijo na mão.
Observe a latinha teimosa que cai na rua e depois é arremessada num lance perfeito para dentro do triturador. Ela ainda poderia estar confortavelmente na prateleira do supermercado ou ter virado um porta-lápis revestido de papel crepom. Mas não. Seu destino foi matar a sede de alguém e ter seu corpo doado para a reciclagem.
Agora diga se os seus problemas não parecem pequenos perto das toneladas de lixo se amontoando dentro do caminhão. Dispersa em analogias baratas, você quase atropela um herói que ficou para trás – se não fosse ele a voltar para buscar um saco escondido sob o canteiro de azaléias, logo alguma dona de casa teria que fazer o trabalho sujo e juntar o lixo espalhado pelos cachorros.
Só se passaram três minutos e você já fez mentalmente a lista do supermercado, pensou no que vai pedir de amigo-secreto no Natal e teve a agradável surpresa de ver que sua memória ainda lembra de toda a letra daquela música dos anos 80.
Atrás do caminhão de lixo, tudo vira pretexto para deixar o pensamento correr solto e voltar ao passado - quando você não tinha filhos para buscar no colégio, não existia telemarketing e a geladeira da sua casa enchia de comida como num passe de mágica.
É, minha amiga, agradeça ao caminhão de lixo que surgiu na sua frente. Um presente de fim de tarde. Graças a ele, você escapou de chegar mais cedo em casa e pegar elevador com o chato do 901. E só porque você foi obrigada a dirigir devagar quase parando, o prego pontudo que está entre dois paralelepípedos só esperando uma vítima nem fez cosquinha no pneu do seu carro.
Mais uma quadra e o caminhão do lixo finalmente vai dar passagem. Que pena. Agradeça porque nesses cinco minutos que pareceram cinco horas, você soltou a cabeça no encosto do banco, batucou os dedos na direção, seus ombros ralaxaram e alguém que vinha atrás viu você dançar dentro do carro e teve vontade de fazer o mesmo.
Um caminhão de lixo. Só com o passar do tempo a gente aprende a aproveitar algumas coisas da vida.
Se você tem o luxo de estar em um carro com ar condicionado, feche os vidros e assista de camarote ao balé do lixo: os homens correm de um lado a outro, pulam para subir na carroceria, fazem saltar veias da perna e sacolas de supermercado, erguem nos braços sacos de 100 litros. Poucas academias oferecem aulas tão completas de aeróbica. E ainda sobra fôlego para a turma conversar sobre futebol e mulheres.
Atrás de um caminhão de lixo, palavras como pressa e ansiedade vão parecer inúteis como uma garrafa de refrigerante sem tampa. O tempo vai perder a noção e você, provavelmente algum compromisso.
Aproveite o momento para ligar para uma amiga, marcar depilação, pagar conta, encomendar uma torta ou experimentar aquela técnica de meditação que você leu numa revista. Se ficar só reclamando, depois não diga que não tem tempo para nada: lembre-se de que você estava com a faca e o queijo na mão.
Observe a latinha teimosa que cai na rua e depois é arremessada num lance perfeito para dentro do triturador. Ela ainda poderia estar confortavelmente na prateleira do supermercado ou ter virado um porta-lápis revestido de papel crepom. Mas não. Seu destino foi matar a sede de alguém e ter seu corpo doado para a reciclagem.
Agora diga se os seus problemas não parecem pequenos perto das toneladas de lixo se amontoando dentro do caminhão. Dispersa em analogias baratas, você quase atropela um herói que ficou para trás – se não fosse ele a voltar para buscar um saco escondido sob o canteiro de azaléias, logo alguma dona de casa teria que fazer o trabalho sujo e juntar o lixo espalhado pelos cachorros.
Só se passaram três minutos e você já fez mentalmente a lista do supermercado, pensou no que vai pedir de amigo-secreto no Natal e teve a agradável surpresa de ver que sua memória ainda lembra de toda a letra daquela música dos anos 80.
Atrás do caminhão de lixo, tudo vira pretexto para deixar o pensamento correr solto e voltar ao passado - quando você não tinha filhos para buscar no colégio, não existia telemarketing e a geladeira da sua casa enchia de comida como num passe de mágica.
É, minha amiga, agradeça ao caminhão de lixo que surgiu na sua frente. Um presente de fim de tarde. Graças a ele, você escapou de chegar mais cedo em casa e pegar elevador com o chato do 901. E só porque você foi obrigada a dirigir devagar quase parando, o prego pontudo que está entre dois paralelepípedos só esperando uma vítima nem fez cosquinha no pneu do seu carro.
Mais uma quadra e o caminhão do lixo finalmente vai dar passagem. Que pena. Agradeça porque nesses cinco minutos que pareceram cinco horas, você soltou a cabeça no encosto do banco, batucou os dedos na direção, seus ombros ralaxaram e alguém que vinha atrás viu você dançar dentro do carro e teve vontade de fazer o mesmo.
Um caminhão de lixo. Só com o passar do tempo a gente aprende a aproveitar algumas coisas da vida.
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