Essa é a história de um iogurte que está com os dias contados. Ele vai acabar na lata do lixo, intacto. Junto com os restos mortais do almoço. Justo no dia que não passa lixeiro. Esse iogurte sabor morango não pediu para ser retirado da gôndola do supermercado onde estava, geladinho e faceiro, observando o movimento.
Alguém chegou sem pedir licença, pegou a embalagem, virou daqui, sacudiu dali, colocou no carrinho. Depois o soterrou com sacos de feijão e bolachas recheadas. Alguém sem coração, diga-se de passagem. O iogurte passou momentos de terror ameaçado pela coroa de um abacaxi, que quase perfurou sua embalagem. E ainda ouviu o comentário de uma criança: "morango de novo, mãe?" Isso acaba com a auto-estima de qualquer um.
Como se não bastasse, o pobre do iogurte foi manuseado por um empacotador amador (provavelmente uma pessoa da família) e designado para a perigosa sacola onde estavam os ovos.
Sacudiu num porta-malas claustrofóbico e superlotado, ficou esperando enquanto eles desceram pra dar uma voltinha no shopping, depois foi confinado a uma geladeira sem degelo automático. Você acha frescura? Então fique você lá dentro, recebendo sucessivos pingos do congelador que agoniza de gelo em cima da sua cabeça.
E isso é a ponta do iceberg. Pior do que ser ignorado por 29 dias na geladeira é ter como companheiros de cela um brócolis e uma couve-flor. Como fedem. Não adianta colocar os dois em saco plástico que o cheiro sai e fica impregnado até no código de barras alheio.
Por uma ironia do destino, essa gente que levou o azarado do iogurte para casa ficou horas conferindo o prazo de validade. Que esnobes. Tiraram várias embalagens, bagunçaram a prateleira, escolheram a melhor data de todas. A propósito: quem disse que as embalagens do fundo são sempre mais novas que as da frente? Puro preconceito. Se elas chegaram depois, que esperem a sua vez de serem compradas.
Voltando ao iogurte, falta um dia e meio para a data vencer. Trinta e seis horas, para ser mais exato. Justo ele, que passou por tantas provações. Sobreviveu a bactérias e microbacilos vivos. Foi separado da sua gordura para ganhar a palavra Light no rótulo. Foi testado por rígidos controles de qualidade. Aguentou a marca concorrente fazer degustação bem na sua frente. E agora vai apodrecer por livre e espontânea vontade - dos outros.
Ô família desumana. A empregada, como num complô, colocou a jarra do suco tapando a visão de quem abre a geladeira. E você sabe, quem não é visto não é lembrado.
Ninguém vai salvar o iogurte a tempo. Não com a sobra do pudim de leite condensado lá embaixo. Quem vai preferir um alimento saudável com pudim de leite condensado por perto? E ainda são seis iogurtes na bandeja. Sem querer ser pessimista, é humanamente impossível comer a tempo os seis iogurtes sabor morango. Não nessa casa.
Alguém chegou sem pedir licença, pegou a embalagem, virou daqui, sacudiu dali, colocou no carrinho. Depois o soterrou com sacos de feijão e bolachas recheadas. Alguém sem coração, diga-se de passagem. O iogurte passou momentos de terror ameaçado pela coroa de um abacaxi, que quase perfurou sua embalagem. E ainda ouviu o comentário de uma criança: "morango de novo, mãe?" Isso acaba com a auto-estima de qualquer um.
Como se não bastasse, o pobre do iogurte foi manuseado por um empacotador amador (provavelmente uma pessoa da família) e designado para a perigosa sacola onde estavam os ovos.
Sacudiu num porta-malas claustrofóbico e superlotado, ficou esperando enquanto eles desceram pra dar uma voltinha no shopping, depois foi confinado a uma geladeira sem degelo automático. Você acha frescura? Então fique você lá dentro, recebendo sucessivos pingos do congelador que agoniza de gelo em cima da sua cabeça.
E isso é a ponta do iceberg. Pior do que ser ignorado por 29 dias na geladeira é ter como companheiros de cela um brócolis e uma couve-flor. Como fedem. Não adianta colocar os dois em saco plástico que o cheiro sai e fica impregnado até no código de barras alheio.
Por uma ironia do destino, essa gente que levou o azarado do iogurte para casa ficou horas conferindo o prazo de validade. Que esnobes. Tiraram várias embalagens, bagunçaram a prateleira, escolheram a melhor data de todas. A propósito: quem disse que as embalagens do fundo são sempre mais novas que as da frente? Puro preconceito. Se elas chegaram depois, que esperem a sua vez de serem compradas.
Voltando ao iogurte, falta um dia e meio para a data vencer. Trinta e seis horas, para ser mais exato. Justo ele, que passou por tantas provações. Sobreviveu a bactérias e microbacilos vivos. Foi separado da sua gordura para ganhar a palavra Light no rótulo. Foi testado por rígidos controles de qualidade. Aguentou a marca concorrente fazer degustação bem na sua frente. E agora vai apodrecer por livre e espontânea vontade - dos outros.
Ô família desumana. A empregada, como num complô, colocou a jarra do suco tapando a visão de quem abre a geladeira. E você sabe, quem não é visto não é lembrado.
Ninguém vai salvar o iogurte a tempo. Não com a sobra do pudim de leite condensado lá embaixo. Quem vai preferir um alimento saudável com pudim de leite condensado por perto? E ainda são seis iogurtes na bandeja. Sem querer ser pessimista, é humanamente impossível comer a tempo os seis iogurtes sabor morango. Não nessa casa.
Por que não fazem um mutirão e liquidam com o assunto? Por que compram sabor morango se já enjoaram? Que levem iogurte maracujá com carambola e deixem os outros em paz. E se compram, por que deixam tudo para a última hora?
Enquanto a vida corre lá fora e o queijo tem muita saída, o iogurte faz risquinhos imaginários na parede da geladeira. E reza a Deus por um fim digno. Melhor ir para o lixo de uma vez. E lá dentro tentar o suicídio com a coroa do abacaxi - que mal chegou do supermercado, foi descascado e devorado inclusive pelas crianças da casa que ainda tiveram o desparate de comentar "hummm, delícia, tá amarguinho!"
O texto termina mas fica aqui um apelo: se você compra iogurtes ou conhece alguém que compre, preste atenção na data da validade. Pode não parecer, mas os iogurtes têm noção de tempo.
Enquanto a vida corre lá fora e o queijo tem muita saída, o iogurte faz risquinhos imaginários na parede da geladeira. E reza a Deus por um fim digno. Melhor ir para o lixo de uma vez. E lá dentro tentar o suicídio com a coroa do abacaxi - que mal chegou do supermercado, foi descascado e devorado inclusive pelas crianças da casa que ainda tiveram o desparate de comentar "hummm, delícia, tá amarguinho!"
O texto termina mas fica aqui um apelo: se você compra iogurtes ou conhece alguém que compre, preste atenção na data da validade. Pode não parecer, mas os iogurtes têm noção de tempo.
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