24 de ago. de 2008

Manifesto a favor das tampas

O sindicato dos fabricantes de requeijão, geléia e nata vem a público manifestar seu apoio às tampas de pão de sanduíche. Sem nenhuma razão aparente, as extremidades do tradicional pão de forma fatiado estão sofrendo preconceito dentro dos lares brasileiros.
Apesar de ser tudo farinha do mesmo saco, as duas tampas são vistas como um pão inferior se comparadas às fatias. Testes de laboratório já comprovaram as mesmas fibras e o mesmo percentual de glúten. Mas de nada adianta. A culpa é da assimetria, alegam os consumidores. Falta de estética, outros justificam. Consequentemente, as tampas são deixadas de lado e não raro desprezadas por toda a família. Esse péssimo hábito alimentar vai contra um passado glorioso onde as pontas do pão de meio quilo - também conhecidas como “bico” - eram disputadas a tapa por crianças e adultos.
É preciso considerar que o descaso às tampas de pão de sanduíche não se encerra na mesa da cozinha: afeta toda a indústria do café da manhã. Se elas fossem consumidas conforme o previsto, uma quantidade maior de requeijão, geléia e nata seria produzida, alavancando o desenvolvimento do setor. Mais cedo ou mais tarde, essa crise certamente vai afetar a versão light dos acompanhamentos para pão e diminuir a contratação de empregados nas fábricas.
Prevendo uma queda considerável de uso, o sindicato das facas também se mobilizou e enviou o seu apoio. Fabricantes de torradeiras publicaram nota de protesto nos principais jornais do país e se preparam para uma crise a médio prazo. O setor de matrizarias que abastece as fábricas de pão de sanduíche já está estudando uma nova maneira de acondicionar a massa e levá-la ao fogo. Num mundo onde o avanço tecnológico produz melancias quadradas e sem sementes, fazer um pão sem tampas não deve ser impossível.
O preconceito contra as tampas de pão de sanduíche é um saco sem fim. O fato pode até afetar a diplomacia com países vizinhos, bloqueando a importação de doce de leite uruguaio. Uma saída, dizem os especialistas, seria direcionar todas as tampas para a produção de croutons e farinha de rosca. Ou então reposicionar o produto para alimentar animais de estimação.
Chez Pierre, um renomado chef-de-cuisine da cidade, acredita que pode ajudar. Quer servir tampas de pão de sanduíche como couvert no seu sofisticado restaurante e dar prestígio às coitadas. O setor hoteleiro, que desperdiça milhões com as milhares de tampas recusadas por seus hóspedes, já se engajou no manifesto.
Solidários, os produtores de queijo e presunto se uniram aos fabricantes de manteiga e queijo de minas para buscar soluções. Se a mortadela venceu o preconceito dos consumidores e hoje possui até versão com ervas finas, deve haver alguma saída para resgatar a dignidade das tampas de pão de sanduíche. Conhecidos publicitários ofereceram seus serviços para lançar uma campanha onde um novo modelo de família de comercial de margarina disputa as duas tampas, limpa a ramela dos olhos, não dá bom dia e fecha a cara atrás do jornal.
Mas para o sindicato dos fabricantes de requeijão, geléia e nata, de nada adiantará toda essa mobilização se cada um dos brasileiros não repensar suas escolhas e receber de braços abertos nas suas casas as tampas de pão de sanduíche. Elas são o Norte e o Sul da embalagem, são o começo e o fim. Definitivamente, merecem um tratamento igual ao dispensado às suas irmãs fatias.







2 comentários:

Unknown disse...

uma idéia seria dizer que as tampas dos pães possuem menos calorias.
praticamente 20% a menos do que as outras fatias do pão.

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny