A porta do ônibus abriu e os primeiros passageiros subiram. Duas mulheres e três homens. Nenhum com vetê - os abomináveis vale-transporte. Wanderson era mesmo um cobrador de sorte.
-Um passinho à frente, faz favor!
A frase ecoou dentro do ônibus, totalmente desnecessária. Wanderson não precisava mais pronunciar seu bordão já que agora, trabalhando na madrugada, o ônibus estava sempre vazio. E o que era melhor, os passageiros pagavam em dinheiro. Assim ele podia realizar sua tara mais secreta: dar o troco.
Tá achando estranho? Todas as taras são estranhas. O cara gostava de manipular moedinhas, de fazer múltiplas combinações de centavos e prorrongar ao máximo o momento-êxtase: a entrega do troco nas mãos do passageiro, o ok silencioso e o barulho da catraca despachando o cidadão.
E não era uma tara tão secreta assim. Tomé, o motorista, tinha certeza de que o colega gostava mesmo é de esfregar os dedos na palma da mão alheia. Wanderson nem perdia tempo explicando. O seu negócio era outro, ele gostava de sentir o peso do metal. Se pudesse, queria ser uma máquina de parquímetro para ficar o dia inteiro recebendo moedinhas sem precisar devolver nenhuma.
-Ô, meu! É pra hoje ou pra amanhã? - disse o passageiro na sua frente.
Tomé foi obrigado a estacionar o ônibus. Wanderson estava branco (eu contei que ele era um negão lindo?) e com os olhos parados, um fio de baba escorrendo pelo canto esquerdo da boca. Após levar um tabefe na cara (o motorista sempre quis baixar o sarrafo no tarado), Wanderson voltou a si.
-É... essa... nota... de... vinte... reais... - balbuciou.
-Que foi, nunca viu, mané? - disse o passageiro, sem a menor paciência.
Óbvio que Wanderson já tinha visto notas de vinte reais. E teve que repetir que seu negócio era outro, ele gostava de sentir o peso do metal.
-Ele vai levar todo o meu troco!!!
E levou. Não sobrou uma moedinha na gaveta. O ônibus arrancou e Wanderson ficou ali, amarelo como a cédula de papel que acabara de receber. Como desgraça pouca é bobagem, a próxima da fila pagou a passagem com vetê.
-Aqui se faz, aqui se paga!!! - praguejou o cobrador.
-Um passinho à frente, faz favor!
A frase ecoou dentro do ônibus, totalmente desnecessária. Wanderson não precisava mais pronunciar seu bordão já que agora, trabalhando na madrugada, o ônibus estava sempre vazio. E o que era melhor, os passageiros pagavam em dinheiro. Assim ele podia realizar sua tara mais secreta: dar o troco.
Tá achando estranho? Todas as taras são estranhas. O cara gostava de manipular moedinhas, de fazer múltiplas combinações de centavos e prorrongar ao máximo o momento-êxtase: a entrega do troco nas mãos do passageiro, o ok silencioso e o barulho da catraca despachando o cidadão.
E não era uma tara tão secreta assim. Tomé, o motorista, tinha certeza de que o colega gostava mesmo é de esfregar os dedos na palma da mão alheia. Wanderson nem perdia tempo explicando. O seu negócio era outro, ele gostava de sentir o peso do metal. Se pudesse, queria ser uma máquina de parquímetro para ficar o dia inteiro recebendo moedinhas sem precisar devolver nenhuma.
-Ô, meu! É pra hoje ou pra amanhã? - disse o passageiro na sua frente.
Tomé foi obrigado a estacionar o ônibus. Wanderson estava branco (eu contei que ele era um negão lindo?) e com os olhos parados, um fio de baba escorrendo pelo canto esquerdo da boca. Após levar um tabefe na cara (o motorista sempre quis baixar o sarrafo no tarado), Wanderson voltou a si.
-É... essa... nota... de... vinte... reais... - balbuciou.
-Que foi, nunca viu, mané? - disse o passageiro, sem a menor paciência.
Óbvio que Wanderson já tinha visto notas de vinte reais. E teve que repetir que seu negócio era outro, ele gostava de sentir o peso do metal.
-Ele vai levar todo o meu troco!!!
E levou. Não sobrou uma moedinha na gaveta. O ônibus arrancou e Wanderson ficou ali, amarelo como a cédula de papel que acabara de receber. Como desgraça pouca é bobagem, a próxima da fila pagou a passagem com vetê.
-Aqui se faz, aqui se paga!!! - praguejou o cobrador.
Não deu outra. O tal passageiro desceu duas paradas depois e foi atropelado por um caminhão de telentulho. Morreu na hora. Wanderson correu para socorrer suas adoradas moedinhas, que ainda respiravam no bolso do defunto. E devolveu a nota de vinte. Ele era tarado mas não era louco.
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