Devia ser proibido ir direto do trabalho para aniversário de criança. Último dia de trabalho, então, deveria ser considerado crime inafiançável. Prisão Perpétua. Cadeira elétrica com choque duplo nos genitais.
A tristeza de deixar para trás amigos queridos. A saudade antecipada. Os abraços sinceros. A força para não molhar o rímel. As oitos horas mais longas da vida. O e-mail de despedida. O chalalá de partir para novos desafios. E depois aquelas bandejas de docinhos dizendo “vem cá regular a lenta, querida”.
Alguém gentilmente coloca uma bandeja na minha frente, como se percebesse um desejo latente de afogar as mágoas na glicose.
-Agora não, obrigada.
-Come, você está tão branquinha.
Pensando bem, um porre de branquinhos seria perfeito. Segurar o pelotine transparente como quem ergue uma taça de cristal e mandar ver. Para começar, vinte branquinhos um atrás do outro, sem sentir o gosto. Só o açúcar descendo redondo e queimando a garganta. Os granulados fazendo cosquinha e subindo direto para o cérebro. Depois mais vinte brigadeiros para alcançar aquele estado débil-alegre-foda-se. Com tantas crianças gritando e subindo pelas paredes, ninguém vai reparar se eu enrolar a língua na hora do parabéns.
A consciência fala mais alto. Lembro das horas investidas na esteira, do prazer de vestir uma calça muitos números menor e levanto da mesa. Já comi um papaya antes de sair. Vou até a janela tomar ar. Quem sabe um guaraná diet com gelo.
O menino mais suado da festa (talvez do mundo) engole o gás hélio de um balão e fala com voz de pato. Uma risada automática escapa da minha boca – é piada velha, mas relaxa como dedos fortes massageando os ombros numa sessão de shiatsu infantil.
De repente a tensão desaparece. Amanhã é outro dia e outra vida. Converso com as pessoas, passo batom, me ofereço para limpar um nariz ranhento, quase tiro os escarpins e entro na fila da cama elástica. Parabéns para eu mesma, que finalmente consegui relaxar.
Quanto às tentações alimentícias, lembro de um truque testado e aprovado em regimes passados. Imagino que aquelas bombas calóricas são docinhos de plástico. E também os salgadinhos, os cachorrinhos, a torta fria, a mãe do aniversariante. Tudo cenário.
-Aceita um caramelado?
A tristeza de deixar para trás amigos queridos. A saudade antecipada. Os abraços sinceros. A força para não molhar o rímel. As oitos horas mais longas da vida. O e-mail de despedida. O chalalá de partir para novos desafios. E depois aquelas bandejas de docinhos dizendo “vem cá regular a lenta, querida”.
Alguém gentilmente coloca uma bandeja na minha frente, como se percebesse um desejo latente de afogar as mágoas na glicose.
-Agora não, obrigada.
-Come, você está tão branquinha.
Pensando bem, um porre de branquinhos seria perfeito. Segurar o pelotine transparente como quem ergue uma taça de cristal e mandar ver. Para começar, vinte branquinhos um atrás do outro, sem sentir o gosto. Só o açúcar descendo redondo e queimando a garganta. Os granulados fazendo cosquinha e subindo direto para o cérebro. Depois mais vinte brigadeiros para alcançar aquele estado débil-alegre-foda-se. Com tantas crianças gritando e subindo pelas paredes, ninguém vai reparar se eu enrolar a língua na hora do parabéns.
A consciência fala mais alto. Lembro das horas investidas na esteira, do prazer de vestir uma calça muitos números menor e levanto da mesa. Já comi um papaya antes de sair. Vou até a janela tomar ar. Quem sabe um guaraná diet com gelo.
O menino mais suado da festa (talvez do mundo) engole o gás hélio de um balão e fala com voz de pato. Uma risada automática escapa da minha boca – é piada velha, mas relaxa como dedos fortes massageando os ombros numa sessão de shiatsu infantil.
De repente a tensão desaparece. Amanhã é outro dia e outra vida. Converso com as pessoas, passo batom, me ofereço para limpar um nariz ranhento, quase tiro os escarpins e entro na fila da cama elástica. Parabéns para eu mesma, que finalmente consegui relaxar.
Quanto às tentações alimentícias, lembro de um truque testado e aprovado em regimes passados. Imagino que aquelas bombas calóricas são docinhos de plástico. E também os salgadinhos, os cachorrinhos, a torta fria, a mãe do aniversariante. Tudo cenário.
-Aceita um caramelado?
Que sacanagem. Ela deve ter lido meus pensamentos. É como oferecer champanhe a uma pessoa com sede. Aceito, sim. A bandeja inteira. Caramelados são meu ponto fraco. Sento numa mesa do canto e começo com os amarelinhos. Minhas mãos suam de euforia. A calda derrete e gruda nos dedos. Não importa. Um brinde a quem inventou esse Lexotan docinho. Enxergo muitas bandejas de caramelados se multiplicando pelas mesas. Sinto que é hora de abandonar o recinto quando me deparo com um brigadeiro comido pela metade, já melequento na toalha da mesa, e devoro o infeliz. Saio antes de pedir ao menino mais suado da festa um gole de fanta uva.
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