O departamento de Recursos Humanos tinha uma missão: fazer com que os funcionários se sentissem tão à vontade, mas tão à vontade, que fizessem o Número Dois no horário comercial. Mais precisamente, no banheiro do trabalho.
-Por que eles não pedem para a gente lamber a térmica do café?
-Ou arrotar no meio da reunião?
Enquanto algumas pessoas nem haviam digerido a notícia ainda, grandes fóruns de discussão aconteciam na Central do Corredor. Quem já não havia passado pela situação de entrar no banheiro imediatamente após alguém ter poluído o local e levar a culpa? Imagine não poder mais usar a clássica desculpa de “não fui eu, o banheiro já estava assim”? A intimidade versus o constrangimento.
Fazer o Número Dois dentro de um ônibus, numa viagem obscura de oito horas onde ninguém conhecia ninguém era uma coisa. Agora dentro do ambiente de trabalho, na claridade das lâmpadas fluorescentes onde todos todos se chamavam pelos apelidos era caso de calamidade pública. Não haveria gravata ou bico fino que revertessem a situação.
Antes que o convite virasse uma ordem, todos começaram a pensar em soluções mais plausíveis. Nunca mais ingerir alimentos sólidos, por exemplo. Ou fazer o Número Dois só na hora do almoço, em banheiro de shopping e de restaurante. A turma dos radicais queria programar uma constipação coletiva, provocando o uso em massa do plano de saúde e levando a empresa à falência.
O RH, agora carinhosamente apelidado de Recursos Desumanos, ouviu os anseios de cada departamento. Mas foi irredutível.
-O Número Dois agora se faz no trabalho. E parem de chamar cocô de Número Dois!
Para ele, nada demonstrava mais cumplicidade numa relação corporativa do que o empregado realizar seus afazeres intestinais no banheiro do empregador. Na tentativa de criar um clima mais propício, aromatizadores de última geração foram instalados. O genérico de papel higiênico foi substituído por marcas de textura delicada e os funcionários responderam um questionário dizendo se preferiam papel higiênico com perfume ou neutro. O tempo de permanência ficaria a cargo de cada um, desde que ninguém achasse que estava realmente em casa e esquecesse da vida lá dentro.
As situações de crise sempre geram soluções brilhantes. Alguns passaram a usar o banheiro do andar alheio. Outros importaram máscaras do carnaval de Veneza para entrar e sair incólumes. Os práticos fizeram uma vaquinha e compraram revistas comunitárias. Houve quem pedisse para colocar um laptop com internet liberada em cada banheiro. O tempo foi passando e aos poucos todos se acostumaram a fazer o Número Dois entre uma reunião e outra – isso quando não entravam falando no celular e seguiam a conversa lá dentro. Até que um dia o Pedroso do Suporte fez o Número Dois de porta aberta. Não era para ficar à vontade?
A Diretoria deu descarga no pessoal do RH e arrancou as plaquinhas de Eles e Elas. O papel higiênico desapareceu da empresa e os banheiros foram subitamente ocupados por caixas de papel carta, recibos e grampeadores. Nem o Número Dois, nem o Número Um.
Os colegas não sabiam se atiravam o Pedroso no poço do elevador ou se erguiam um busto de clipes em sua homenagem.
-Por que eles não pedem para a gente lamber a térmica do café?
-Ou arrotar no meio da reunião?
Enquanto algumas pessoas nem haviam digerido a notícia ainda, grandes fóruns de discussão aconteciam na Central do Corredor. Quem já não havia passado pela situação de entrar no banheiro imediatamente após alguém ter poluído o local e levar a culpa? Imagine não poder mais usar a clássica desculpa de “não fui eu, o banheiro já estava assim”? A intimidade versus o constrangimento.
Fazer o Número Dois dentro de um ônibus, numa viagem obscura de oito horas onde ninguém conhecia ninguém era uma coisa. Agora dentro do ambiente de trabalho, na claridade das lâmpadas fluorescentes onde todos todos se chamavam pelos apelidos era caso de calamidade pública. Não haveria gravata ou bico fino que revertessem a situação.
Antes que o convite virasse uma ordem, todos começaram a pensar em soluções mais plausíveis. Nunca mais ingerir alimentos sólidos, por exemplo. Ou fazer o Número Dois só na hora do almoço, em banheiro de shopping e de restaurante. A turma dos radicais queria programar uma constipação coletiva, provocando o uso em massa do plano de saúde e levando a empresa à falência.
O RH, agora carinhosamente apelidado de Recursos Desumanos, ouviu os anseios de cada departamento. Mas foi irredutível.
-O Número Dois agora se faz no trabalho. E parem de chamar cocô de Número Dois!
Para ele, nada demonstrava mais cumplicidade numa relação corporativa do que o empregado realizar seus afazeres intestinais no banheiro do empregador. Na tentativa de criar um clima mais propício, aromatizadores de última geração foram instalados. O genérico de papel higiênico foi substituído por marcas de textura delicada e os funcionários responderam um questionário dizendo se preferiam papel higiênico com perfume ou neutro. O tempo de permanência ficaria a cargo de cada um, desde que ninguém achasse que estava realmente em casa e esquecesse da vida lá dentro.
As situações de crise sempre geram soluções brilhantes. Alguns passaram a usar o banheiro do andar alheio. Outros importaram máscaras do carnaval de Veneza para entrar e sair incólumes. Os práticos fizeram uma vaquinha e compraram revistas comunitárias. Houve quem pedisse para colocar um laptop com internet liberada em cada banheiro. O tempo foi passando e aos poucos todos se acostumaram a fazer o Número Dois entre uma reunião e outra – isso quando não entravam falando no celular e seguiam a conversa lá dentro. Até que um dia o Pedroso do Suporte fez o Número Dois de porta aberta. Não era para ficar à vontade?
A Diretoria deu descarga no pessoal do RH e arrancou as plaquinhas de Eles e Elas. O papel higiênico desapareceu da empresa e os banheiros foram subitamente ocupados por caixas de papel carta, recibos e grampeadores. Nem o Número Dois, nem o Número Um.
Os colegas não sabiam se atiravam o Pedroso no poço do elevador ou se erguiam um busto de clipes em sua homenagem.
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