Eles beijaram as crianças e saíram.
Beijaram fraco para não acordar e ter que explicar de novo que voltariam depois de amanhã – as crianças entenderam logo, a explicação era para eles mesmos.
No caminho para o aeroporto, ele ouvia o silêncio dela. E pensava se já beijava ela agora ou depois.
Ela pensava se tinha deixado os bilhetes na porta da geladeira, os cobertores extras, o telefone da ambulância, o termômetro ao alcance, a caixa de leite, as bananas e maçãs. Depois parou de pensar para não estragar a viagem.
Queria ter deixado morangos, mas não encontrou. Queria ser menos boba. Queria ter fugido antes.
Agora eles estavam no taxi. Eles e a mala cheia de tempo livre. Para onde mesmo eles iam?
Os dois queriam ir um para o outro.
E rir um do outro. Contar piada sem graça.
Lembrar coisas – qualquer coisa. E dizer frases sem sentido.
Dançar podia ser, mas eles não sabiam.
Queriam entrelaçar os dedos das mãos enquanto caminhassem. Depois fazer cosquinha com o dedão.
E conversar até ficar sem voz – era tanta conversa guardada que eles poderiam cruzar oceanos conversando.
A rua mais comprida seria percorrida em um segundo. Ou horas, sei lá – o relógio não embarcou porque deu overbooking.
Eles olharam para trás, para ver se não tinha ninguém seguindo.
Ufa.
Só os dois era tão bom que chegava a ser estranho.
Sabe quem pediu para vir junto? O ponto turístico. Um, não. Muitos. Ouviram um “não” bem grande.
O mapa ameaçou sair da gaveta e entrar na mala – podia ajudar a achar o caminho. Eles repetiram a mesma desculpa que deram para o city tour: bobagem, a gente já volta.
Se quisessem dobrar à direita, sim.
Se quisessem dobrar à esquerda, tá.
Se ela dissesse que era para atravessar a rua, claro.
Se ele achasse que os dois já tinham passado por ali, também.
Se a mesinha de um café os encontrasse na calçada seguinte, quem sabe.
Se uma livraria abrisse os braços, que bom.
Se quisessem comprar brinquedos, sempre.
Se um dissesse para o outro “olha lá”, onde?
Se ela perguntasse para ele tu me ama, muito.
Se já fosse hora do almoço e eles sentissem vontade de comer nada, combinado.
Se ela quisesse pegar um elevador e subir no último andar, na mesma hora.
Se ele quisesse dar um beijo sem motivo, oba.
Se o mar molhasse as barras das calças deles, e daí?
Se ela quisesse ligar para casa, não agora. Mais tarde.
Se um turista pedisse para tirar foto, uma só.
Se os raios do sol quisessem namorar com os cabelos dela, pode.
Se os pés cansassem e desse vontade de sentar na areia, a tarde toda.
Se ela inventasse uma frase poética, ele ia ouvir. E rir.
Se os beijos fossem tantos que sobrassem, deixa assim. Beijo nunca é demais.
Se as entradas para o teatro caíssem na rua, melhor.
Se ninguém juntasse do chão, entendi.
Se eles voltassem logo para o hotel, agora mesmo.
Se no outro dia chovesse ou fizesse sol, tanto faz. Só os dois já estava perfeito. Eles não precisavam de muito mais.
Beijaram fraco para não acordar e ter que explicar de novo que voltariam depois de amanhã – as crianças entenderam logo, a explicação era para eles mesmos.
No caminho para o aeroporto, ele ouvia o silêncio dela. E pensava se já beijava ela agora ou depois.
Ela pensava se tinha deixado os bilhetes na porta da geladeira, os cobertores extras, o telefone da ambulância, o termômetro ao alcance, a caixa de leite, as bananas e maçãs. Depois parou de pensar para não estragar a viagem.
Queria ter deixado morangos, mas não encontrou. Queria ser menos boba. Queria ter fugido antes.
Agora eles estavam no taxi. Eles e a mala cheia de tempo livre. Para onde mesmo eles iam?
Os dois queriam ir um para o outro.
E rir um do outro. Contar piada sem graça.
Lembrar coisas – qualquer coisa. E dizer frases sem sentido.
Dançar podia ser, mas eles não sabiam.
Queriam entrelaçar os dedos das mãos enquanto caminhassem. Depois fazer cosquinha com o dedão.
E conversar até ficar sem voz – era tanta conversa guardada que eles poderiam cruzar oceanos conversando.
A rua mais comprida seria percorrida em um segundo. Ou horas, sei lá – o relógio não embarcou porque deu overbooking.
Eles olharam para trás, para ver se não tinha ninguém seguindo.
Ufa.
Só os dois era tão bom que chegava a ser estranho.
Sabe quem pediu para vir junto? O ponto turístico. Um, não. Muitos. Ouviram um “não” bem grande.
O mapa ameaçou sair da gaveta e entrar na mala – podia ajudar a achar o caminho. Eles repetiram a mesma desculpa que deram para o city tour: bobagem, a gente já volta.
Se quisessem dobrar à direita, sim.
Se quisessem dobrar à esquerda, tá.
Se ela dissesse que era para atravessar a rua, claro.
Se ele achasse que os dois já tinham passado por ali, também.
Se a mesinha de um café os encontrasse na calçada seguinte, quem sabe.
Se uma livraria abrisse os braços, que bom.
Se quisessem comprar brinquedos, sempre.
Se um dissesse para o outro “olha lá”, onde?
Se ela perguntasse para ele tu me ama, muito.
Se já fosse hora do almoço e eles sentissem vontade de comer nada, combinado.
Se ela quisesse pegar um elevador e subir no último andar, na mesma hora.
Se ele quisesse dar um beijo sem motivo, oba.
Se o mar molhasse as barras das calças deles, e daí?
Se ela quisesse ligar para casa, não agora. Mais tarde.
Se um turista pedisse para tirar foto, uma só.
Se os raios do sol quisessem namorar com os cabelos dela, pode.
Se os pés cansassem e desse vontade de sentar na areia, a tarde toda.
Se ela inventasse uma frase poética, ele ia ouvir. E rir.
Se os beijos fossem tantos que sobrassem, deixa assim. Beijo nunca é demais.
Se as entradas para o teatro caíssem na rua, melhor.
Se ninguém juntasse do chão, entendi.
Se eles voltassem logo para o hotel, agora mesmo.
Se no outro dia chovesse ou fizesse sol, tanto faz. Só os dois já estava perfeito. Eles não precisavam de muito mais.
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