Litoral. Auge do verão. Três da tarde. João sacode a areia das suas Havaianas, veste a camiseta para cobrir a sunga e entra num tradicional restaurante à beira-mar. Desafiando a moral e os bons costumes praianos, chama o garçom e pede filé com fritas.
O outro faz que não ouve. Coloca o cardápio aberto na sua frente e indica a
casquinha de siri, especialidade da casa.
João sabe que a casquinha deles é famosa, que vem gente da cidade só para comer duas, três, quatro. E ainda levam o que sobrou para casa. Ele não vê graça nenhuma em carne de siri. Para falar a verdade, tem nojo da casquinha reciclada. Devolve o cardápio e repete o pedido: filé com fritas. Mal passado. Quase vivo.
O garçom continua com a caneta aberta, esperando. Oferece Congrio, Merluza,
Peixe Rei, Taínha, Namorado, Linguado. Um filezinho sem espinhas, quem sabe? Faz bem para a saúde. Se ele tiver alguma preferência, é só pedir que o cozinheiro dá um jeito.
Sim, ele tem preferência. O bom e velho filé com fritas. João fica com mais vontade ainda de comer carne sanguinolenta. Não é porque alguém definiu que na beira da praia só se come peixe que ele vai desistir. E por que a implicância com o coitado do boi? Da batata ninguém diz nada.
O garçom não sabe mais o que fazer para dissuadir o cliente. Inconformado, chama o dono do restaurante. João ameaça ir embora. Confusão na mesa quinze. Postas de peixe à doré esfriam nas mesas vizinhas.
Como o cidadão entra num estabelecimento que vende excelentes frutos do mar há 45 anos e pede carne vermelha? A honra do tataravó Euclides, um mago na tarrafa, como é que fica? Sem falar que desse jeito ele tira o ganha-pão de humildes pescadores que todos os dias madrugam e enfrentam os perigos do mar para buscar peixes frescos. Quem sabe ele experimenta uma lula à vinagrete, em homenagem ao presidente? Ou camarão gigante? No bafo? À milanesa também fica uma delícia.
João respira fundo. Pede o cardápio novamente. Mostra que ali dentro está escrito carnes e, embaixo, filé com fritas. Sim, responde o garçom. Filé com fritas, a pé, a cavalo. Mas isso é de praxe, está escrito para encher linguiça. Ninguém come carne vermelha num restaurante especializado em peixes. Não faz sentido. Ele nem lembra quando foi a última vez que um cliente comeu algo que não fosse peixe. Seria como pedir risoto numa pizzaria.Quatro da tarde. Eles vencem, pero nem tanto. João muda o pedido antes que desmaie de fome. Um frango grelhado, pelamordedeus.
O outro faz que não ouve. Coloca o cardápio aberto na sua frente e indica a
casquinha de siri, especialidade da casa.
João sabe que a casquinha deles é famosa, que vem gente da cidade só para comer duas, três, quatro. E ainda levam o que sobrou para casa. Ele não vê graça nenhuma em carne de siri. Para falar a verdade, tem nojo da casquinha reciclada. Devolve o cardápio e repete o pedido: filé com fritas. Mal passado. Quase vivo.
O garçom continua com a caneta aberta, esperando. Oferece Congrio, Merluza,
Peixe Rei, Taínha, Namorado, Linguado. Um filezinho sem espinhas, quem sabe? Faz bem para a saúde. Se ele tiver alguma preferência, é só pedir que o cozinheiro dá um jeito.
Sim, ele tem preferência. O bom e velho filé com fritas. João fica com mais vontade ainda de comer carne sanguinolenta. Não é porque alguém definiu que na beira da praia só se come peixe que ele vai desistir. E por que a implicância com o coitado do boi? Da batata ninguém diz nada.
O garçom não sabe mais o que fazer para dissuadir o cliente. Inconformado, chama o dono do restaurante. João ameaça ir embora. Confusão na mesa quinze. Postas de peixe à doré esfriam nas mesas vizinhas.
Como o cidadão entra num estabelecimento que vende excelentes frutos do mar há 45 anos e pede carne vermelha? A honra do tataravó Euclides, um mago na tarrafa, como é que fica? Sem falar que desse jeito ele tira o ganha-pão de humildes pescadores que todos os dias madrugam e enfrentam os perigos do mar para buscar peixes frescos. Quem sabe ele experimenta uma lula à vinagrete, em homenagem ao presidente? Ou camarão gigante? No bafo? À milanesa também fica uma delícia.
João respira fundo. Pede o cardápio novamente. Mostra que ali dentro está escrito carnes e, embaixo, filé com fritas. Sim, responde o garçom. Filé com fritas, a pé, a cavalo. Mas isso é de praxe, está escrito para encher linguiça. Ninguém come carne vermelha num restaurante especializado em peixes. Não faz sentido. Ele nem lembra quando foi a última vez que um cliente comeu algo que não fosse peixe. Seria como pedir risoto numa pizzaria.Quatro da tarde. Eles vencem, pero nem tanto. João muda o pedido antes que desmaie de fome. Um frango grelhado, pelamordedeus.
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