22 de dez. de 2009

Falta de maresia

Pessoas urbanas como eu precisam encher os pulmões de maresia em vez em quando. E não falo de ir a praias com toda a infraestrutura, dessas de resort e matéria de revista (ok, eu preferia). O choque térmico e necessário para um urbanóide é uma praia roots, onde o colchão faz pular cedo da cama e o microondas só apareceu há dois ou três veraneios.
É numa casa de praia que relações familiares são postas à prova. Sem o mesmo conforto que se tem na cidade, o jeito é todo mundo colaborar e rever suas expectativas. Hábitos prosaicos ajudam a relaxar. E você sabe, os problemas ficam pequenos perto do mar. Deslocados, desconectados, desenclausurados e desnudados, somos obrigados a tirar as raquetes de frescobol do armário e aproveitar. A conversa surge naturalmente na sombra do guarda-sol. E o sabor de uma boa espiga de milho volta a atiçar as papilas gustativas.
Fora de seu habitat, os urbanóides comparam, reclamam, tentam achar algo que preste na TV com antena externa, mas sobrevivem. É só dar um tempo pra maresia agir na corrente sanguínea (e nos cabelos, inevitável).
Quando eu era criança, passava os três meses de verão na casa da minha vó. O mundo era outro e as emoções surgiam na fila do orelhão pra ligar pra casa, na espera pelo sorveteiro - ouvindo sua corneta tocar de longe e medindo a distância em quadras que nos separava do picolé diário. Hoje meus filhos não sobreviveriam tanto tempo na praia, nem eu. Uma pena.
Está na hora de sair das redes sociais e deitar naquela outra, de preferência depois do almoço. E caminhar com água batendo nas canelas, que adoro. Supermercados lotados também me esperam, mas é o preço que se paga por um mínimo de civilização.

photo from clifford coffin

3 comentários:

Garota Enxaqueca disse...

Bah, voltei no tempo lendo o teu texto e relembrando os 3 meses que eu também passava na casa da minha avó na praia, junto com os primos que moravam longe e vinham aproveitar as férias. Lembro da espera pelo sorveteiro, do homem que passava nas tardes de sábado vendendo camarão fresco de porta em porta, do crepe no palito na avenida central ao cair do dia. Ai, que saudade!
Aproveita teus dias na praia, Maga.
Nos encontramos ano que vem aqui na cidade.
Beijos

Unknown disse...

Teus textos estão cada vez melhores!
Também lembrei da minha infância, e apesar de não fazer tanto tempo, as coisas mudaram tanto...
Boa praia!

Fernanda Reali disse...

Fui testemunha destes verões, em que éramos crianças voando em bicletas e motinhos. Imagina se meus filhos voassem nas motos sozinhos hoje??? Eu morreria de medo. Éramos bem livres.

Eu não tenho nem um minuto de saudades, embora lembre destes momentos de vez em quando. Odiei filas de orelhões, odiei antenas externas com imagens de TV ruins, odiei casas de praia com conforto de menos e parentes demais. Faz 10 anos que não vou às praias da infância e, honestamente,espero não ir nunca mais. Gosto de deixar o passado no álbum de fotos. Amo maresia, que é um dos meus aromas favoritos. Tento ver o mar todos os dias e, quando não consigo, sinto falta.Se todas as pessoas pudessem viver ao lado do mar, o mundo seria mais relax.

Beijos