A babá demitiu a mãe da criança por justa causa. A mãe não era mais a mesma desde que Isabel nasceu.
No início, chegava pontualmente para conferir se a água do banho estava na temperatura ideal. Comprava sabonete cheiroso e xampu que não ardia os olhos do bebê. Fazia questão de trocar as fraldas sempre que estava em casa, levava ao pediatra, fazia aviãozinho com as últimas colheradas da sopinha.
Depois Isabel foi crescendo, a novidade passou e a mãe começou a se ausentar. A babá avisava que tudo estava pronto para o banho e a mãe não ia conferir a roupa escolhida, nem tirava fotos da menina ensaboada. Ouvia contar que Isabel tinha caído do sofá e não dava um beijo mágico tipo cura-tudo.
A babá não dizia nada. Ficava com o coração cortado, beijava ela mesma o galo na testa da Isabel. Ia nas reuniões com a professora, assinava boletins. A cada dia que passava, percebia que a mãe não respeitava os horários. Saía cedo demais, voltava muito tarde. E tinha que engolir desculpas esfarrapadas como “ganhei dois ingressos de cinema”, “ganhei uma aula grátis na academia”. E a criança, sem ganhar atenção.
Depois que todos iam dormir, a babá corria para o seu quarto minúsculo e conversava com o silêncio: “vou demitir essa relapsa, isso não pode ficar assim”. Onde já se viu uma mãe que não brinca com a criança, que não pergunta se ela comeu bem, se aprendeu passou novos no balé.
A babá sabia que ela mesma era a grande culpada por essa situação. Ela fez vista grossa por muito tempo e, na ausência da mãe, assumiu um filho que não era seu. Confiou que a mãe não ia se atirar nas cordas, que ia viajar menos a trabalho, que ia levar a menina na pracinha nos dias em que estava em casa. A babá tirava folga e, quando voltava, encontrava a criança no mesmo lugar. Com cheiro de mofo. Sem maçãs rosadas no rosto.
Um dia, a babá chamou a mãe para uma conversa séria. “Dona Cássia, há quanto tempo a senhora não pega a Isabel no colo, não diz para essa menina que é louca por ela, não faz cosquinhas? A senhora é mãe há 5 anos, já devia ter aprendido que a menina sente sua falta. Por mais que eu me envolva, que ame a Isabel e tenha a chave da casa, não é a mesma coisa. E olha que eu sempre cumpri com as minhas obrigações. Usei uniforme branco, conheci o meu lugar, nunca cantei o seu marido, nunca botei a menina contra a senhora. Assim não dá, se não se endireitar, vou ter que demitir.”
Sabe o que a mãe respondeu? “E o fundo de garantia, será que eu tenho direito?"
Foi aí que a babá decidiu demitir a mãe por justa causa, para ela sair com uma mão na frente e outra atrás. Se não gostava de ser mãe então porque teve a menina?
No início, chegava pontualmente para conferir se a água do banho estava na temperatura ideal. Comprava sabonete cheiroso e xampu que não ardia os olhos do bebê. Fazia questão de trocar as fraldas sempre que estava em casa, levava ao pediatra, fazia aviãozinho com as últimas colheradas da sopinha.
Depois Isabel foi crescendo, a novidade passou e a mãe começou a se ausentar. A babá avisava que tudo estava pronto para o banho e a mãe não ia conferir a roupa escolhida, nem tirava fotos da menina ensaboada. Ouvia contar que Isabel tinha caído do sofá e não dava um beijo mágico tipo cura-tudo.
A babá não dizia nada. Ficava com o coração cortado, beijava ela mesma o galo na testa da Isabel. Ia nas reuniões com a professora, assinava boletins. A cada dia que passava, percebia que a mãe não respeitava os horários. Saía cedo demais, voltava muito tarde. E tinha que engolir desculpas esfarrapadas como “ganhei dois ingressos de cinema”, “ganhei uma aula grátis na academia”. E a criança, sem ganhar atenção.
Depois que todos iam dormir, a babá corria para o seu quarto minúsculo e conversava com o silêncio: “vou demitir essa relapsa, isso não pode ficar assim”. Onde já se viu uma mãe que não brinca com a criança, que não pergunta se ela comeu bem, se aprendeu passou novos no balé.
A babá sabia que ela mesma era a grande culpada por essa situação. Ela fez vista grossa por muito tempo e, na ausência da mãe, assumiu um filho que não era seu. Confiou que a mãe não ia se atirar nas cordas, que ia viajar menos a trabalho, que ia levar a menina na pracinha nos dias em que estava em casa. A babá tirava folga e, quando voltava, encontrava a criança no mesmo lugar. Com cheiro de mofo. Sem maçãs rosadas no rosto.
Um dia, a babá chamou a mãe para uma conversa séria. “Dona Cássia, há quanto tempo a senhora não pega a Isabel no colo, não diz para essa menina que é louca por ela, não faz cosquinhas? A senhora é mãe há 5 anos, já devia ter aprendido que a menina sente sua falta. Por mais que eu me envolva, que ame a Isabel e tenha a chave da casa, não é a mesma coisa. E olha que eu sempre cumpri com as minhas obrigações. Usei uniforme branco, conheci o meu lugar, nunca cantei o seu marido, nunca botei a menina contra a senhora. Assim não dá, se não se endireitar, vou ter que demitir.”
Sabe o que a mãe respondeu? “E o fundo de garantia, será que eu tenho direito?"
Foi aí que a babá decidiu demitir a mãe por justa causa, para ela sair com uma mão na frente e outra atrás. Se não gostava de ser mãe então porque teve a menina?
Na primeira noite depois da demissão, a babá não conseguia dormir. Foi no quarto da Isabel. Abriu um pouco a janela, destapou seus pés. Fechou a janela de novo, cobriu seus pés com o lençol. Pegou sua mãozinha caída e ajeitou embaixo do travesseiro, como ela gostava. Sem querer, a acordou. Sonolenta, a menina sorriu e disse “boa noite, mãe.”
Um comentário:
Adorei, muito bom. Estou passeando pelo blog, lendo teus antigos posts. Impossível não lembrar das notícias desta manhã, do caso do esquecimento do bebê em Novo Hamburgo. Abraços.
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