2 de out. de 2009

Decifra-me

Acabei de assistir a uma palestra muito legal sobre como a mulher é representada na mídia e na publicidade. Sou fã da Denise Gallo por suas colunas na revista TPM e também por seus insights em relação ao universo feminino, que a levaram a fundar a empresa de pesquisa Uma a Uma em SP, focada nessa confusão de desejos e sentimentos que somos todas nós.
Denise mostrou o quanto as revistas e a publicidade nos sacaneiam com promessas impossíveis de perfeição e celebridades euforicamente realizadas. Nada de novo para quem é antenada e consegue analisar com frieza o conteúdo das bancas e da TV. Mas eu voltei para a agência pensando na forma como ela se referiu ao que está visível e invisível dentro desse discurso todo. O que é visível, você já imagina: a busca por beleza, realização no trabalho, sucesso no amor, eterna juventude e uns dez orgasmos múltiplos depois de um dia estafante.
A carta na manga está no invisível, nos sentimentos ignorados, nas outras mulheres que não são saradas ou lindas ou tão realizadas assim. Denise lembrou que as revistas só se referem à primeira metade das nossas vidas – é como se depois dos 40/50 anos nada importasse. Falou que nós temos mais anos inférteis do que férteis, e parece que só a ovulação interessa.
Para ela, nem tudo está perdido. Aqui e ali surgem empresas à la Dove que ousam mostrar o invisível. Os errinhos, confissões e improvisos, os acidentes de percurso, as gafes que nós cometemos na frente do espelho, dos filhos, do chefe, do marido. Representações femininas mais verdadeiras, é disso que as mulheres precisam. Inclusão, equilíbrio, humor e sensibilidade – uma fórmula que requer anunciantes com culhão. Me arrepiei quando ela disse que a mídia tem que ser cúmplice da mulher na caminhada, não a guardiã daquilo que nunca chega.
Numa hora, Denise listou vários termos técnicos dos anúncios de cremes faciais. E vendo todas aquelas palavras difíceis, inventadas por algum redator muito criativo, eu lembrei do Omo Lipolase. Esse termo foi um divisor de águas, separando a consumidora porca da caprichosa. Levei anos para comprar outra marca de sabão em pó e não me sentir culpada. Quantas mulheres caíram no Lipolase como abelhas no mel, ávidas pelo branco mais branco? Agora elas querem fazer o teste da janela e ver se a sua pele reflete todo o esforço para conservar a juventude. Só que até o lençol pendurado também enruga com o vento.
http://www.umaauma.com.br/ e blog.umaauma.com.br

Um comentário:

Fernanda Reali disse...

Muito bonitinho, blablabla, whiskas sachet, mas tu vives da mídia, não pode achar bom esse discurso. Publicitários vivem do desejo alheio, do sonho inatingível e da obsolescência planejada. Jornalistas, sociólogos e antropólogos é que vivem da realidade.

Quando tu relatas "Me arrepiei quando ela disse que a mídia tem que ser cúmplice da mulher na caminhada, não a guardiã daquilo que nunca chega", eu não poderia discordar mais!!!

O terapeuta é que deve ser cúmplice na caminhada. A mídia é a feiticeira que nos envenena dia a dia, cada vez com uma maçã diferente.

Adoro ler o que tu escreves. Beijos