23 de jun. de 2009

Luz

Dois momentos em que eu amo a escuridão: 1) quando abro a porta do meu apartamento, ao chegar da rua, e me deparo com os milhares de pontinhos de luz no janelão – é sempre tão bonito. Nem acendo a luz, não quero colocar cortina, tomara que meus olhos nunca se acostumem com a cena. Uma vez, na sacada da antiga casa da minha mãe, o Rafa era pequeninho e ficou encantado com uma visão assim. Chamou aquilo de “cidade de luz”, prova de que todo mundo pode ter sua Paris. 2) quando passo pela minha sala, também no escuro, e vejo nossas fotos mudando no porta-retratos digital. Não pelo modernismo da coisa, gadgets não me impressionam. Eu gosto é da surpresa iluminada. Esqueço o que eu ia fazer na cozinha. Espero pra ver qual é a próxima foto, pra onde ela vai me transportar. E vou – com a toalha de banho molhada na mão – pra algum momento de férias, de aniversário, de parque, de um dia que foi muito bem aproveitado. Falando nisso, preciso tirar mais fotos (e aproveitar mais os dias). Elas nunca são suficientes, tem sempre uma luz de flash que poderia ter acendido. Fotos com a luz do sol, até sem luz e sem foco se o motivo for nobre. Preciso também comprar mais porta-retratos. E espalhar pela casa pra alimentar nossas memórias. Eu tinha jurado que ia deixar a digital dentro da bolsa (de celular, nããão). Posso estar perdendo uma boa foto agora.

Um momento em que eu odeio a escuridão: 1) num dia como hoje, quando a família sai de casa e ainda é noite fechada lá fora, com chuva e frio. Que vontade de chutar o balde e engatar a ré. Todos de volta, bando de irresponsáveis, jogados na cama, tirando fotos em plena terça-feira, enchendo o edredon de farelo de bolo. Puxa vida, eu deveria investir no setor de banco de imagens.

Um comentário:

Fernanda Reali disse...

Sim, fotos alimentam nossa blindagem emocional. Ótimo texto, uma luzinha suave iluminando a tarde.
Bjs