14 de fev. de 2009

Sobre uma paixão feminina

Essa crônica é mais um free e está agora no site do Bourbon Shopping. Foco exige sacrifício, como dizia o povinho do falecido emprego. Todo mundo liquidando e eu não posso gastar NADA. Acho até que vou tomar um calmante à base de ervas para manter a calma.

Paixão por liquidação

Quando o assunto é liquidação, sou uma abelha em direção ao mel. Fico tranquila porque sei que não estou sozinha – cabem muitas mulheres nessa colméia.
Já subornei meus filhos (homens!) com sorvete para que entrassem comigo numa loja em liquidação. Era o último fim de semana, eu não teria como voltar outro dia. Adivinhe se o sorvete não foi parar no chão, tumultuando ainda mais o lugar? Eu teria prontamente limpado se não estivesse há meia hora na fila do caixa, prestes a ser atendida. Eu e um vestidinho lindo, preço in-crí-vel, o único que encontrei no meu tamanho. O sorvete derreteu mais rápido com o olhar fuzilante da atendente. Não perdi a classe, muito menos o vestido. Sorri e ainda botei a culpa na loja:
-Viu o que uma mãe passa para não perder a liquidação de vocês?
Só os homens conseguem ser imunes aos apelos de uma vitrine em promoção. Quanto maior o percentual, maior o serviço de utilidade pública para a ala feminina. A gente nunca sabe quando vai precisar de uma blusinha nova, melhor estar sempre abastecida.
Não são os homens que dizem para sermos racionais? Então! Se o preço baixou, a lógica manda aproveitar. Quer argumento mais matemático do que um sapato com 40% de desconto? Ainda mais se ele for preto (sim, mais um) e num modelo que não sai de moda tão cedo.
As liquidações também cumprem um papel biológico, regulando o nosso relógio interno. O ano voa, atropela, faz perder as referências. Nós, mulheres, utilizamos as liquidações como sábios marcadores de tempo. O outono correria o sério risco de emendar no verão e passar despercebido se não fossem as liquidações. Com elas, encerramos um ciclo e iniciamos outro. Nos despedimos dos biquínis e recebemos de braços abertos os novos trench coats. Preparamos não só o closet, mas o espírito. Subimos e descemos roupas, torcemos para que ainda faça um calorzinho e dê para usar a regatinha garimpada aos 44 minutos do segundo tempo.
“A partir de”. “Apenas”. “De Por”. Essas palavras são pura poesia para mulheres que assumem sua paixão por um desconto charmoso. Sou uma delas. Não nego. E ainda pago em três vezes no cartão.

Um comentário:

Gislaine Marques disse...

Q delícia esse free. Adorei!