Sou libriana como Claudia. Quando você ler essa edição de aniversário, vou estar curtindo o presentão que me dei de 39 anos: peitos novos. Sim, eu poderia ter escolhido um vestido, uma bolsa, uma sandália, uma viagem. Mas como disse meu melhor amigo, o que adianta passar uma semana em Salvador e continuar sem peito?
Não que os meus fossem invisíveis. Até eu fazer um regime quatro anos atrás e perder onze quilos, eles eram satisfatórios. Longe de serem o ideal. Depois que emagreci, o pouco se foi e começou a fazer falta especialmente no verão. Usando uma metáfora, é como se eu tivesse redecorado toda a casa mas havia ainda um cantinho que poderia ficar mais acolhedor e ser melhor aproveitado. Eu, que suei tanto para diminuir três números do jeans, estava louca para aumentar alguns números do sutiã. E haja coragem para assumir que uma mulher sem vocação para stripper quer ter peitão.
Talvez a indústria da lingerie mereça um busto em praça pública por ter me apresentado ao sutiã com enchimento (não... pensando bem, se alguém merece é meu amigo, o primeiro a pronunciar a palavra silicone em voz alta e olhar em minha direção). Foi enganando a torcida no dia-a-dia que percebi a diferença que faz um plus a mais. O único problema era tirar o sutiã e aceitar a verdade. Se era para viver com enchimento, então que fossem os meus.
Pesquisando na Internet descobri um universo de possibilidades: prótese lisa e texturizada, perfil alto e baixo, formato redondo, em gota ou natural. E também questões delicadas como encapsulamento, anestesia, seroma, incisão via aréola, axila, inframamário e uma lista de pode-isso-não-pode-aquilo. Aos poucos essas informações foram sendo absorvidas e meu cérebro gentilmente as transformou em decotes generosos, regatas, blusinhas de frente única. Sim! Se as mulheres fazem tudoplastia e sobrevivem cheias de hematomas para contar, por que justo comigo daria problema?
Era só não pensar que iriam abrir duas gavetas no meu tórax e guardar lá dentro o silicone (nessa hora lembrei do silicone de colocar nos móveis, na esteira, no pneu). Mesmo assim, decidi entrar na faca e algumas consultas depois perguntava se não dava para dar uma forcinha e puxar para dentro das gavetas uma pelanquinha que sobrou dos partos. Esquece. Fica para a próxima.
Ah, a primeira consulta. Por ser indicação de uma grande amiga e guru, eu já simpatizava com a médica antes de conhecê-la. Só não contava com o nervosismo. Minhas mãos suavam frio na sala de espera. Eu já estava me achando um homem de tanto olhar para seios nas ruas e revistas. Caso não conseguisse abrir a boca, era só mostrar o recorte de uma página com o par de seios mais lindos que consegui encontrar. O que eu ia dizer? Oi, meu nome é peito e quero Magali - ou algo assim. Pensei em inventar um trauma de infância, mas aí a médica abriu a porta e a cumplicidade foi instantânea.
Quando vi, tinha feito até test-drive de teta (e adorado!). "Mas não quero aquele degrau que fica em algumas mulheres. Quero um peito tipo escada rolante, que vai surgindo e subindo. Não quero me sentir gorda ou matrona. Nem virar a cover da Pamela Anderson. Não quero me arrepender. Nem de colocar muito. Nem de colocar pouco." Além de cirurgiã plástica e mastologista, eu queria que ela fosse psicóloga?
Mesmo a adorando desde o início, quis ouvir uma segunda opinião. Um cirurgião também superindicado, supercompetente e... precisava ser supercharmoso?! Ele está acostumado a ver tudo, pensei. Óbvio que viu o meu constrangimento. Fiz milhares de perguntas tentando adiar o inevitável: mostrar meus peitinhos para aquele homão. Antes que você me chame de tarada, explico. Faço parte da ala feminina que prefere ginecologista mulher porque se sente mais à vontade e acaba usando o mesmo raciocínio para outras especialidades médicas - especialmente quando tem que tirar a roupa. Na hora do vamos-ver, mirei um ponto fixo na parede e desabotoei a blusa. Ele olhou e eu murchei com sua reação: "é... tem que botar".
Não pense que foi fácil reconhecer que eu queria ficar turbinada. Depois de lidar com meu próprio preconceito, tive que abstrair o preconceito dos outros. Sobrancelhas levantaram e testas franziram quando contei minha intenção. "Silicone? Você!?". Ouvi relatos escabrosos do silicone que escorregou pâncreas adentro, a prótese que foi parar no dedão do pé. E com tanta gente passando fome no mundo, eu ia gastar dinheiro com algo tão... tão.. fútil?
Ainda bem que a maioria vibrou e as amigas fizeram contagem regressiva comigo. Cada uma sabe onde aperta o sutiã. Ou onde ele afrouxa. Conversando com diversas neo-peitudas, descobri que o único arrependimento era não ter colocado um pouquinho mais. Isso me fez repensar os mililitros. Não era só o tamanho da prótese, o que eu estava mensurando era sensualidade e auto-estima.
Lembro da primeira vez em que, meio de brincadeira, comentei a idéia com meu marido. Ricardo abriu um sorriso e me surpreendeu com um belo "e por que não?". Se eu tinha uma intenção, ele tinha segundas. O engraçado foi acompanhar as mudanças no seu comportamento. A empolgação inicial se transformou em insegurança quando ele viu que eu estava mesmo decidida. "E se eu achar que está muito decotado?". Para me ajudar, um amigo nosso o tranquilizou dizendo "mulher que bota silicone quer mostrar". Mas nada como dar tempo ao tempo. Sabe o bebê que olha para a mãe e vê uma mesa posta? Depois eu podia jurar que Ricardo olhava para mim e via uma plaquinha "Breve aqui Playground".
Falando nisso, eu ainda precisava contar a novidade para dois homenzinhos: meus filhos de 10 e 6 anos. Enquanto o menor já fez disso uma brincadeira e ficou imitando como a mãe ia ficar "tetuda", o mais velho perguntou por quê. Expliquei que se a gente não gosta de algo no corpo, pode mudar. O argumento não fez muito sentido. Aí falei que eu queria ficar bonita. Ele me olhou com aquele jeitinho amado e disse: "mas mãe, você já é bonita". É, Rafinha, vá entender as mulheres.
Se eu tivesse um numerólogo, ele se orgulharia da data que marquei a cirurgia: 7 de 7 para o verão 2007. Finalmente o dia chegou e eu estava tranquila. Optei por anestesia local e sedação – desde que eu apagasse por completo. O procedimento durou menos de duas horas e fui para casa no mesmo dia. Não doeu nada. Claro que a primeira coisa que fiz ao acordar na sala de recuperação foi espiá-los (depois fiquei sabendo que a primeira palavra que pronunciei ainda sonolenta foi “Biquíni!!”). A diferença era visível. Mas como já saí da cirurgia usando um sutiã-modelador-armadura, não consegui ver direito. Só fui apresentada oficialmente a meus peitos novos 24h depois, quando voltei para tirar o dreno. Ao abrir o sutiã, eles saltaram lépidos e faceiros. Muito prazer! E o prazer era todinho meu.
O pós-operatório foi tranquilo, mas foi um pós-operatório. De chegada, precisei de ajuda até para escovar os dentes (e me irritei muito). Fiquei presa em casa mas mantive os olhos pintados. Minhas mãos e barriga incharam tanto que parecia um dejà vú de gravidez. Morria de medo de mexer os braços e acabei tensionando de tal forma os ombros que precisei de sessões de fisioterapia. Num excesso de zelo, troquei de cama e de quarto. Dormi algumas noites sentada no sofá da sala. Fiquei sem dirigir por 2 semanas e sem fazer esporte por 45 longos dias (que medo de engordar!). Tive um princípio de inflamação em uma das cicatrizes. Mas o pior de tudo foi o desconforto de dormir de barriga para cima – eu e 7 travesseiros tentamos tantas posições que daria um Kama Sutra do Sono. Já o fator mais valioso da recuperação foi a total disponibilidade da cirurgiã, sempre tão cuidadosa, rápida e carinhosa.
A volta ao trabalho também foi um momento marcante. No imaginário das pessoas, o silicone é necessariamente extravagante. Frustrei os que esperavam me ver com estrelas prateadas nos bicos dos seios. Grande mesmo era a curiosidade de todos. Teve até uma amiga que não resistiu e me apalpou em plena luz fluorescente. Alguns olhares eram disfarçados. Outros, bem objetivos. E eu sentindo um misto de orgulho e vergonha. Se tem uma frase que diz tudo foi a que ouvi do meu chefe quando voltei de uma consulta para tirar os pontos. Ele perguntou se estava tudo bem. Repetindo as palavras da médica, falei que era para ficar em observação. Ao que ele prontamente se ofereceu: “Então observaremos!!!”.
Como uma boa libriana que pesa tudo na balança, valeu muito a pena. O resultado ficou bem como eu queria: natural e sensual. É como se eu recuperasse algo que era meu de direito. Que sensação gostosa sentir o braço roçar na lateral do seio. E comparar as fotos de antes e depois da cirurgia! Meus sutiãs novos são lindos e meus peitos, mais ainda. Plagiando aquela clássica preocupação masculina, descobri que tamanho é importante, sim.
Não que os meus fossem invisíveis. Até eu fazer um regime quatro anos atrás e perder onze quilos, eles eram satisfatórios. Longe de serem o ideal. Depois que emagreci, o pouco se foi e começou a fazer falta especialmente no verão. Usando uma metáfora, é como se eu tivesse redecorado toda a casa mas havia ainda um cantinho que poderia ficar mais acolhedor e ser melhor aproveitado. Eu, que suei tanto para diminuir três números do jeans, estava louca para aumentar alguns números do sutiã. E haja coragem para assumir que uma mulher sem vocação para stripper quer ter peitão.
Talvez a indústria da lingerie mereça um busto em praça pública por ter me apresentado ao sutiã com enchimento (não... pensando bem, se alguém merece é meu amigo, o primeiro a pronunciar a palavra silicone em voz alta e olhar em minha direção). Foi enganando a torcida no dia-a-dia que percebi a diferença que faz um plus a mais. O único problema era tirar o sutiã e aceitar a verdade. Se era para viver com enchimento, então que fossem os meus.
Pesquisando na Internet descobri um universo de possibilidades: prótese lisa e texturizada, perfil alto e baixo, formato redondo, em gota ou natural. E também questões delicadas como encapsulamento, anestesia, seroma, incisão via aréola, axila, inframamário e uma lista de pode-isso-não-pode-aquilo. Aos poucos essas informações foram sendo absorvidas e meu cérebro gentilmente as transformou em decotes generosos, regatas, blusinhas de frente única. Sim! Se as mulheres fazem tudoplastia e sobrevivem cheias de hematomas para contar, por que justo comigo daria problema?
Era só não pensar que iriam abrir duas gavetas no meu tórax e guardar lá dentro o silicone (nessa hora lembrei do silicone de colocar nos móveis, na esteira, no pneu). Mesmo assim, decidi entrar na faca e algumas consultas depois perguntava se não dava para dar uma forcinha e puxar para dentro das gavetas uma pelanquinha que sobrou dos partos. Esquece. Fica para a próxima.
Ah, a primeira consulta. Por ser indicação de uma grande amiga e guru, eu já simpatizava com a médica antes de conhecê-la. Só não contava com o nervosismo. Minhas mãos suavam frio na sala de espera. Eu já estava me achando um homem de tanto olhar para seios nas ruas e revistas. Caso não conseguisse abrir a boca, era só mostrar o recorte de uma página com o par de seios mais lindos que consegui encontrar. O que eu ia dizer? Oi, meu nome é peito e quero Magali - ou algo assim. Pensei em inventar um trauma de infância, mas aí a médica abriu a porta e a cumplicidade foi instantânea.
Quando vi, tinha feito até test-drive de teta (e adorado!). "Mas não quero aquele degrau que fica em algumas mulheres. Quero um peito tipo escada rolante, que vai surgindo e subindo. Não quero me sentir gorda ou matrona. Nem virar a cover da Pamela Anderson. Não quero me arrepender. Nem de colocar muito. Nem de colocar pouco." Além de cirurgiã plástica e mastologista, eu queria que ela fosse psicóloga?
Mesmo a adorando desde o início, quis ouvir uma segunda opinião. Um cirurgião também superindicado, supercompetente e... precisava ser supercharmoso?! Ele está acostumado a ver tudo, pensei. Óbvio que viu o meu constrangimento. Fiz milhares de perguntas tentando adiar o inevitável: mostrar meus peitinhos para aquele homão. Antes que você me chame de tarada, explico. Faço parte da ala feminina que prefere ginecologista mulher porque se sente mais à vontade e acaba usando o mesmo raciocínio para outras especialidades médicas - especialmente quando tem que tirar a roupa. Na hora do vamos-ver, mirei um ponto fixo na parede e desabotoei a blusa. Ele olhou e eu murchei com sua reação: "é... tem que botar".
Não pense que foi fácil reconhecer que eu queria ficar turbinada. Depois de lidar com meu próprio preconceito, tive que abstrair o preconceito dos outros. Sobrancelhas levantaram e testas franziram quando contei minha intenção. "Silicone? Você!?". Ouvi relatos escabrosos do silicone que escorregou pâncreas adentro, a prótese que foi parar no dedão do pé. E com tanta gente passando fome no mundo, eu ia gastar dinheiro com algo tão... tão.. fútil?
Ainda bem que a maioria vibrou e as amigas fizeram contagem regressiva comigo. Cada uma sabe onde aperta o sutiã. Ou onde ele afrouxa. Conversando com diversas neo-peitudas, descobri que o único arrependimento era não ter colocado um pouquinho mais. Isso me fez repensar os mililitros. Não era só o tamanho da prótese, o que eu estava mensurando era sensualidade e auto-estima.
Lembro da primeira vez em que, meio de brincadeira, comentei a idéia com meu marido. Ricardo abriu um sorriso e me surpreendeu com um belo "e por que não?". Se eu tinha uma intenção, ele tinha segundas. O engraçado foi acompanhar as mudanças no seu comportamento. A empolgação inicial se transformou em insegurança quando ele viu que eu estava mesmo decidida. "E se eu achar que está muito decotado?". Para me ajudar, um amigo nosso o tranquilizou dizendo "mulher que bota silicone quer mostrar". Mas nada como dar tempo ao tempo. Sabe o bebê que olha para a mãe e vê uma mesa posta? Depois eu podia jurar que Ricardo olhava para mim e via uma plaquinha "Breve aqui Playground".
Falando nisso, eu ainda precisava contar a novidade para dois homenzinhos: meus filhos de 10 e 6 anos. Enquanto o menor já fez disso uma brincadeira e ficou imitando como a mãe ia ficar "tetuda", o mais velho perguntou por quê. Expliquei que se a gente não gosta de algo no corpo, pode mudar. O argumento não fez muito sentido. Aí falei que eu queria ficar bonita. Ele me olhou com aquele jeitinho amado e disse: "mas mãe, você já é bonita". É, Rafinha, vá entender as mulheres.
Se eu tivesse um numerólogo, ele se orgulharia da data que marquei a cirurgia: 7 de 7 para o verão 2007. Finalmente o dia chegou e eu estava tranquila. Optei por anestesia local e sedação – desde que eu apagasse por completo. O procedimento durou menos de duas horas e fui para casa no mesmo dia. Não doeu nada. Claro que a primeira coisa que fiz ao acordar na sala de recuperação foi espiá-los (depois fiquei sabendo que a primeira palavra que pronunciei ainda sonolenta foi “Biquíni!!”). A diferença era visível. Mas como já saí da cirurgia usando um sutiã-modelador-armadura, não consegui ver direito. Só fui apresentada oficialmente a meus peitos novos 24h depois, quando voltei para tirar o dreno. Ao abrir o sutiã, eles saltaram lépidos e faceiros. Muito prazer! E o prazer era todinho meu.
O pós-operatório foi tranquilo, mas foi um pós-operatório. De chegada, precisei de ajuda até para escovar os dentes (e me irritei muito). Fiquei presa em casa mas mantive os olhos pintados. Minhas mãos e barriga incharam tanto que parecia um dejà vú de gravidez. Morria de medo de mexer os braços e acabei tensionando de tal forma os ombros que precisei de sessões de fisioterapia. Num excesso de zelo, troquei de cama e de quarto. Dormi algumas noites sentada no sofá da sala. Fiquei sem dirigir por 2 semanas e sem fazer esporte por 45 longos dias (que medo de engordar!). Tive um princípio de inflamação em uma das cicatrizes. Mas o pior de tudo foi o desconforto de dormir de barriga para cima – eu e 7 travesseiros tentamos tantas posições que daria um Kama Sutra do Sono. Já o fator mais valioso da recuperação foi a total disponibilidade da cirurgiã, sempre tão cuidadosa, rápida e carinhosa.
A volta ao trabalho também foi um momento marcante. No imaginário das pessoas, o silicone é necessariamente extravagante. Frustrei os que esperavam me ver com estrelas prateadas nos bicos dos seios. Grande mesmo era a curiosidade de todos. Teve até uma amiga que não resistiu e me apalpou em plena luz fluorescente. Alguns olhares eram disfarçados. Outros, bem objetivos. E eu sentindo um misto de orgulho e vergonha. Se tem uma frase que diz tudo foi a que ouvi do meu chefe quando voltei de uma consulta para tirar os pontos. Ele perguntou se estava tudo bem. Repetindo as palavras da médica, falei que era para ficar em observação. Ao que ele prontamente se ofereceu: “Então observaremos!!!”.
Como uma boa libriana que pesa tudo na balança, valeu muito a pena. O resultado ficou bem como eu queria: natural e sensual. É como se eu recuperasse algo que era meu de direito. Que sensação gostosa sentir o braço roçar na lateral do seio. E comparar as fotos de antes e depois da cirurgia! Meus sutiãs novos são lindos e meus peitos, mais ainda. Plagiando aquela clássica preocupação masculina, descobri que tamanho é importante, sim.
Um comentário:
adorei, magali!
acho que a parte mais importante do corpo feminino são os seios. pode ver: se a gente está completamente sem roupa e entra alguém de surpresa no quarto...o que cobrimos primeiro? os seios, lógico. acho que isso vem de antigamente, seios são meio sagrados, divinos, tem a ver com maternidade, alimentação, proteção. e sensualidade, pois as mulheres diferem muito nos seios. eu, ao contrário de ti, quero tirar, mulher nunca está satisfeita, hahaa. beijoca
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