27 de abr. de 2009

Estão demolindo duas casas na frente do meu trabalho. É uma rua que eu não frequentava antes, sou nova no bairro. Também desconheço quem morava ali. Mesmo assim, sinto tristeza ao acompanhar a cena. Não pelo espigão que certamente vai ser construído nos dois terrenos juntos. Eu fico pensando em tudo que já aconteceu nas casas, na vida que existiu lá dentro.
Quem são os urubus que andam de lá pra cá, garimpando sobreviventes para revender? As portas de madeira foram retiradas antes, de caminhão. Prefiro imaginar que saíram dignamente, como num transplante para salvar os órgãos que ainda têm utilidade. Talvez elas se transformem em um charmoso móvel de madeira de demolição e ganhem um novo lar.
As paredes não tiveram a mesma sorte. Estão definhando, virando pó. Justo quem sustentou o telhado da casa recebe marretadas. Um dia elas foram quarto, sala, cozinha, banheiro, varanda. Separaram andares e brigas. Presenciaram almoços de domingo, a família voltando de férias (com saudade da casa), os namoros no sofá, tantos aniversários e natais, choro de bebê. E agora parecem esqueletos. As calçadas, varridas incontáveis vezes, estão imundas como o contêiner do telentulho. Em um dos pátios, sobrou uma árvore. Se eu fosse ela, fugiria antes que viessem os tapumes da obra.
Gosto de passar na frente dos lugares onde já morei. Eles representam fases diferentes da vida, contam parte da minha história. Tomara que eles sigam como eu, de pé.

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