Há semanas eu cuido uma moradora que se mudou para uma esquina bem movimentada da cidade. Literalmente uma esquina, passo ali duas vezes ao dia a caminho do trabalho. Essa moradora de rua, por alguma razão, escolheu aquele lugar para fixar residência. Trouxe os poucos pertences, colocou um plástico grande por cima de tudo e prendeu sua casa com pedras. Fica no portão, se existisse um, cuidando para que ninguém leve o que é seu.
Sempre que fecha o sinal, eu tenho mais tempo para uma visita. Do jeito que pode, ela mantém sua casa organizada. Não falta jornal. Esses dias apareceu uma cadeira branca de plástico no meio da sala (ou quarto, banheiro, cozinha). É onde ela senta para ver a novela dos carros.
De cara eu simpatizei com a dignidade que ainda tem no rosto dessa mulher. Se espera alguém, eu não sei. Uma ajuda, com certeza. Pensei em dar um cobertor, logo ela vai precisar. E como toda mulher que se preze, ela também tem coisas que aparentemente não precisa. Hoje passei ali e vi uma bolsa preta, dura e com alças, guardada embaixo da cadeira. Bolsa bonita. Bem que ela faz.
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