18 de mar. de 2009

O último modelito

Já fui colega de ofício do Clodovil. Eu devia ter uns sete anos e era estilista das minhas bonecas. Muitas coleções eu criei, fazia até desfile em cima da mesa com música do toca-discos. Era minha brincadeira preferida, se naquela época existisse um Fashion Week para bonecas, eu teria participado.
Sempre que o Clodovil aparecia na TV rabiscando ideias de pano, eu grudava os olhos. Ele desenhava um pedaço de rosto das mulheres, os braços eram riscos esguios com dedos na ponta. E rabiscava aquilo numa rapidez que me impressionava. Se o desenho já estava pronto e ele só passava por cima ou se eu não percebia os cortes de edição, não importa. Para mim, era mágico ver o Clodovil em processo criativo.
Depois eu larguei a profissão, quis ser aeromoça, dona de loja, professora, arquiteta, dentista. Acabei publicitária, atrás de outro tipo de ideias. Quando o Clodovil entrou para a política, fiquei desapontada. Até ele? Segui acompanhando suas polêmicas em Brasília e as fotos bizarras na Caras. Lembro de um ensaio numa banheira com flores, ele passava creme nas pernas de um jeito mais feminino que nós, mulheres. Coisas de Clodovil. Gostando ou não, ele tinha estilo.
E tem a ironia do destino: um cara que passou a vida escolhendo o que os outros iam vestir não teve a chance de deixar separado o seu último modelito.

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