2 de mar. de 2009

Sem perfume

Meu perfume caiu no chão e me espalhou por todo o banheiro.
Os rejuntes dos azulejos nunca ficaram tão cheirosos, devem ter pensado que era dia de festa. Doeu não pelo caco de vidro que atingiu meu pé, mas porque aconteceu com meu perfume preferido. A nuca, sempre a grande privilegiada, ficou só na vontade. Nenhuma gota escorreu pelo pescoço, elas que sempre são muitas, ameaçando manchar a gola. Nenhum cacho de cabelo grudou na nuca. Os pulsos hoje não se encontraram, como fazem todas as manhãs, para misturar o perfume em movimentos circulares, levando o meu cheiro para a corrente sanguínea. Os ombros apenas mexeram, lamentando a perda.
Um vidro quase inteiro desperdiçado, com tanta pele para perfumar. Má sorte para o início de uma segunda-feira chuvosa? Que nada. Um dia da caça, outro do caçador. Cogitei a hipótese de molhar as mãos no líquido e passar em alguma parte do corpo, nem que fossem as pernas. Não adiantaria. O desastre aconteceu antes do banho, testando a minha vaidade. Para não sair sem perfume, eu coloquei outro. Estranho sentir um cheiro que não é meu. É como se tivesse saído outra Magali de casa.

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